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A noite inaugural do Cine PE teve a exibição de dois longas. O primeiro deles, o pernambucano Muribeca (2021), foi apresentado por uma equipe numerosa. Não apenas os realizadores e técnicos falaram, mas também os moradores ou ex-moradores do conjunto habitacional que dá nome ao filme e que corre um sério risco de desaparecer por conta da especulação imobiliária. Muitas vezes embargadas pela emoção, as falas das pessoas foram permeadas pela indignação com o descaso quanto à memória afetiva e aos laços construídos num lugar enxergado pelo poder público somente como um pedaço de terra a ser reutilizado conforme os ditames do mercado imobiliário. Logo depois dessa extensa e forte manifestação de resistência, subiu ao palco a equipe do baiano Receba! (2021), filme de ação que conta uma história típica daquelas em que alguém se enrasca ainda mais quando tenta sair de uma enrascada. Pode-se dizer que foi um programa duplo desafiador, principalmente pelas fragilidades de ambas as produções.

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Já na manhã desta quarta-feira, 24, foi a vez da realização das primeiras coletivas com os realizadores do Cine PE. Os curtas-metragistas falaram inicialmente – lembrando que os curtas das mostras pernambucana e nacional estão sendo exibidos sempre à tarde no Teatro do Parque. Logo depois, foi a vez dos representantes dos longas conversarem com a imprensa e o público. Alcione Ferreira e Camilo Soares discorreram sobre os dois anos de pesquisa até começarem a rodar Muribeca, mas também sinalizaram que o projeto exigia certa urgência, pois os prédios estavam indo abaixo regularmente. Camilo falou bastante sobre a questão da construção de uma linguagem que desse conta desse diagnóstico, enquanto Alcione pontuou principalmente sobre a aproximação imediata com aquela comunidade. E como ambos são também fotojornalistas, a conversa passou pela imagem como um dispositivo e às vezes resvalou numa reflexão sobre as bordas e/ou as fronteiras entre ficção e documentário.

Logo na sequência, foi a vez do breve debate sobre o baiano Receba!, Participaram da conversa Pedro Perazzo, um dos diretores, e a produtora Flavia Santana. A se lamentar a ausência do elenco. Pedro começou falando sobre os desafios de produção e demonstrou especial entusiasmo ao mencionar suas principais influências, os irmãos Joel e Ethan Coen. Além disso, ele citou filmes muito diferentes, tais como Spring Breakers: Garotas Perigosas (2012) e Onde Começa o Inferno (1959) como fontes de inspiração para cenas específicas (respectivamente, a briga no carro e o sangue pingando no teto). Já Flávia explicou os desafios impostos a um filme de baixo orçamento que já no roteiro previa elementos como perseguições, tiroteios e várias locações. Ela celebrou a criatividade da equipe e a capacidade de todos de adequação às possibilidades e impossibilidades da produção.

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As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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