O jornalista e cineasta Arnaldo Jabor morreu nesta terça-feira, 15, em São Paulo. Ele estava internado desde dezembro de 2021 no Hospital Sírio-Libanês após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Intelectual de extensa carreira dedicada ao cinema e à literatura, ele teve mais destaque nos últimos anos como jornalista e cronista. Tornaram-se célebres as suas aparições em programas jornalísticos de Rede Globo, nos quais comentava com agudeza os fatos do nosso cotidiano sociopolítico. Jabor foi um dos membros eméritos do chamado Cinema Novo, movimento que chacoalhou o cinema brasileiro nos anos 1960 com a proposta de inovar na linguagem para, entre outras coisas, fazer do cinema um instrumento de reflexão. Antes de estrear como realizador, ele foi técnico sonoro, assistente e exerceu a função de crítico. Formado pelo curso de cinema promovido pelo Itamaraty em parceria com a Unesco em 1964, ele estreou nos longas-metragens com o documentário A Opinião Pública (1967), mosaico de uma sociedade que padecia sob o jugo da ditadura civil-militar que em breve promulgaria o ainda mais restritivo AI-5.
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Já o primeiro longa de ficção comandado por Arnaldo Jabor foi Pindorama (1970), exibido na mostra competitiva do prestigiado Festival de Cannes. Já em 1973, lançou Toda Nudez Será Castigada, baseado na obra de Nelson Rodrigues. Perseguida pela censura, a produção deu a Darlene Glória o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado e levou para casa o Kikito de Melhor Filme. Jabor seguiu na trilha se Nelson Rodrigues em O Casamento (1975) e logo depois iniciou a sua chamada Trilogia do Apartamento com o excepcional Tudo Bem (1978), sátira ao comportamento burguês de personagens da classe média que venceu o Festival de Brasília. Já nos anos 1980, ele escreveu e dirigiu Eu Te Amo (1981), estrelado por Paulo César Pereio e Sônia Braga, e chamou novamente a atenção do mundo com Eu Sei que Vou te Amar (1986), pelo qual Fernanda Torres venceu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.
Arnaldo Jabor se afastou do cinema nos anos 1990, especialmente depois que o então presidente da república Fernando Collor de Mello extinguiu e/ou sucateou os mecanismos estatais que zelavam pelo nosso cinema. Foi aí que ele se dedicou mais ao jornalismo e ao ofício de escritor – publicou oito livros de crônicas. Em 2010, Jabor voltou aos cinemas depois de um afastamento de quase 25 anos com A Suprema Felicidade. Ele deixa um legado importante para o nosso cinema, sem dúvida. Arnaldo Jabor deixa três filhos: Juliana, João Pedro e Carolina Jabor.