20250109 cinema brasileiro 2025 papo de cinema 1
09 jan

O cinema brasileiro teve um 2024 esperançoso nas bilheterias. A situação ainda está muito longe do ideal, com certeza, a começar pelo número de salas de cinema, pequeno se comparado ao de outros países com muito mais telas por habitante. No entanto, de acordo com dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema), em 2024 nosso país bateu o seu recorde de salas em funcionamento: 3509, assim superando as 3.478 registradas em 2019, antes da pandemia de Covid-19.

E as bilheterias de 2024 do cinema brasileiro também foram boas. Claro que ainda há muito terreno a conquistar, especialmente depois dos seis anos em que o governo federal (Temer e Bolsonaro), além de diminuir incentivos e fomentos, ainda fez campanha pública contra artistas, fragilizando ainda mais uma classe que enfrenta tantos desafios para sobreviver. E óbvio que há disparidade entre o desempenho de filmes com verba suficiente para encarar as produções hollywoodianas e os menores, aqueles que penam para alcançar o público. As barreiras e contradições do nosso mercado são históricas e por isso mesmo devemos comemorar as nossas conquistas.

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CINEMA BRASILEIRO: MOTIVOS DE COMEMORAÇÃO 

O cinema brasileiro tem bons motivos para comemorar. Em 2024, nossos filmes representaram 10,1% dos ingressos vendidos no país. O percentual fica abaixo da média interna antes da pandemia (cerca de 15%), mas representa um crescimento enorme em relação aos últimos três anos – 1,7% em 2021, 4,2% em 2022 e de 3,2% em 2023. De toda forma, ainda estamos longe de países com os melhores market share (a fatia de mercado que os filmes representam internamente em seus respectivos países), como Coreia do Sul (58%) e França (44,4%) – além dos EUA e Índia, que são os maiores exemplos nesse sentido.

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Para se ter uma ideia, o Clube do Milhão, aquele formado por produções que ultrapassaram essa quantidade de espectadores, teve alguns membros entre os filmes lançados no ano passado. O Auto da Compadecida 2 (mais de 2 milhões de espectadores e contando), Ainda Estou Aqui (mais de 3 milhões de espectadores e contando), Os Farofeiros 2 (com 1,8 milhão) e Nosso Lar 2: Os Mensageiros (com 1,6 milhão). Podemos contabilizar também o sucesso de Minha Irmã e Eu (1,8 milhão), lançado em 28 de dezembro de 2023, cujo resultado foi grande parte alcançado em 2024.

CINEMA BRASILEIRO: AS ESPERANÇAS DE 2025

O ano de 2025 promete manter essa curva de crescimento do cinema brasileiro nas bilheterias. Pelo menos na teoria temos ótimos candidatos ao Clube do Milhão. A começar por Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa (lançamento nesta quinta, 09), que pode repetir os êxitos de bilheteria de Turma da Mônica: Laços (2019) – mais de 2 milhões de espectadores – e Turma da Mônica: Lições (2021) – mais de 820 mil espectadores. Uma Advogada Brilhante (lançamento previsto para fevereiro) tem como trunfo as presenças de grandes comediantes como Leandro Hassum e Paulinho Serra.

Outro candidato é Mãe Fora da Caixa (lançamento previsto para junho), estrelado por Miá Mello e Danton Mello. Além dos nomes conhecidos, conta a favor do prognóstico positivo o fato de o filme ser baseado numa peça teatral de muito sucesso – lembram do que aconteceu num caso similar com a saga Minha Mãe é uma Peça? Também previsto para junho, A Sogra Perfeita 2 dá continuidade a um filme que levou mais de 800 mil pessoas ao cinema, ou seja, também é um forte postulante ao Clube do Milhão.

Em julho a aposta é Detetives do Prédio Azul 4, parte de uma das franquias infantis mais lucrativas dos últimos tempos. Então, não é nenhum absurdo também pensar que esse pode chegar ao milhão. Já para novembro e dezembro, respectivamente, temos O Shaolin do Sertão 2 (o primeiro filme teve uma média impressionante de ingressos vendidos por cópia) e o projeto ainda sem título estrelado por Ingrid Guimarães e Mônica Martelli, as duas sendo grandes imãs de espectadores. E, claro, podemos ainda ter surpresas para além dos diagnósticos mais imediatos. De uma coisa temos certeza: é preciso priorizar o cinema brasileiro. Então bora conferir nossos filmes na telona?

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Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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