Filmes com temática LGBT são destaque na programação oficial do 24° Cine Ceará, e foi a partir do quarto dia de atividades que estas obras começaram a ser exibidas. Somente na mostra competitiva ibero-americana de longas-metragens há três títulos que compartilham desse mesmo interesse: o mexicano Obediência Perfeita (2014), de Luis Urquiza, sobre um escândalo de padres pedófilos que se envolviam com meninos, que será exibido hoje; o brasileiro De Gravata e Unha Vermelha (2014), de Miriam Chnaidermann, documentário sobre homens e travestis, cuja projeção está marcada para a próxima sexta-feira; e o internacional Dólares de Areia (2014), uma coprodução entre México, Argentina e República Dominicana dirigida por Israel Cardenas e Laura Amelia Guzman, que foi o primeiro a ser apresentado, na noite de ontem.
Este longa, estrelado pela veterana Geraldine Chaplin (filha de Charles Chaplin) sobre uma septuagenária francesa que se apaixona por uma garota em uma praia dominicana e pensa levá-la para morarem juntas em Paris, ao mesmo tempo em que a jovem a vê somente como um caixa bancário para ela e seu namorado, tem uma narrativa muito interessante, repleta de elipses, mas bastante elaborada e que compensa os esforços da audiência em decifrá-la. A se lamentar apenas a projeção verificada no Theatro José de Alencar, aqui em Fortaleza, que não foi das melhores. Apresentando o filme estava o ator Ricardo Ariel Toribio, que estava visivelmente emocionado e confessou ser esta sua primeira vez fora do seu país de origem – a República Dominicana. Ainda assim, o pouco público presente – infelizmente, uma constante nas exibições por aqui – parece ter embarcado na jornada proposta pela obra, que desde já desponta como uma das favoritas ao prêmio principal.
Também no quarto dia de programação teve início a mostra Foco Argentina – LGBT, composta somente por longas argentinos de temática homossexual. O filme de estreia foi o belo Havaí (2013), de Marco Berger, sobre dois homens que, a partir do momento que passam a morar juntos, vão, aos poucos, descobrindo o amor que surge entre eles. Um trabalho muito sensível e envolvente, que permanece com o espectador por muito ainda após o seu término. Outros quatros títulos serão exibidos ainda até o final do festival.
A mostra competitiva de curtas-metragens nacionais apresentou, nesta terça-feira, a animação Guida (2014), da paulista Rosana Urbes, o grande premiado deste ano no Anima Mundi, e o documentário Se (2014), do carioca Ian Capillé. Se o primeiro encantou pela leveza dos traços e pelo lirismo das situações apresentadas envolvendo uma senhora que decide reinventar sua vida ao ver um anúncio no jornal, o segundo causou estranheza pelo alto nível de experimentalismo. Ao se focar na trajetória pessoal do próprio realizador, diagnosticado como esquizofrênico ainda na juventude e que, seguindo ordens médicas, passa a realizar um diário visual, o cineasta desenvolve um recorte de situações desconexas e imagens aleatórias. O resultado é por demais hermético e confuso, mais afastando o público do que aproximando-o em uma possível identificação que, infelizmente, não chega a acontecer.
(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 24° Cine Ceará)
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