O segundo dia de programação oficial do 19º CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto foi agitado por uma presença ilustre: a da ministra do Supremo Tribunal Federal Carmen Lúcia, figura pública que tem se tornado habitual nos festivais de cinema de Minas Gerais, especialmente da Mostra de Tiradentes e agora o CineOP. Mas, antes que a magistrada falasse em defesa da democracia e, principalmente, fizesse uma ode apaixonada à arte e as suas possibilidades, o evento sediou outro importante debate aberto ao público. A mesa chamada Animação Ontem e Hoje contou com a mediação do curador e crítico Cleber Eduardo, além das presença dos animadores Fábio Iamaji, Adriana Pinto, Arnaldo Galvão e Tania Anaya. Os presentes falaram sobre a orfandade do setor por conta da interrupção do Anima Mundi, o maior festival de animação da América Latina, suspenso desde a pandemia da Covid-19, citaram os desafios num mercado em crescente transformação e trocaram ideias com o público presente no centro de convenções de Ouro Preto acerca do que esperar do futuro.
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Logo depois da mesa sobre animação, foi a vez da ministra Carmen Lúcia se transformar na principal atração do dia dois do 19º CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. Mineira de nascimento, ela subiu ao púlpito demonstrando estar à vontade (e em casa), sendo recebida pelos presentes como uma verdadeira celebridade. Dizendo-se atribulada por uma série de compromissos oficiais, fez um longo pronunciamento e depois foi embora, infelizmente não permanecendo no recinto para dialogar com o público. Sua intervenção foi um monólogo articulado e bem-humorado, no qual reiterou que a cultura é um bem inalienável e garantido em constituição, brincou sobre namorar no escurinho do cinema em sua terra natal, e assinalou a verdade alarmante de que o acesso aos bens culturais é infelizmente restrito a uma parcela privilegiada da população. “O primeiro ódio de qualquer tirano é a cultura, pois ela transgride com legitimidade (…) é dever do Estado garantir o amplo acesso à cultura (…) nosso audiovisual é muito rico e o que ainda não não foi amplamente mostrado é porque o Estado não assumiu plenamente as suas responsabilidades nesse sentido”, disse Carmen Lúcia.
Por um lado, é muito confortante ouvir uma autoridade defendendo de modo tão apaixonado a arte e refirmando os compromissos do Estado com o setor, especialmente depois dos anos do governo Jair Bolsonaro em que essa pauta era tratada a pontapés. Por outro, a ministra fez um discurso calibrado para atender aos anseios da plateia que, claro, a ovacionou com salva de palmas, sem ir além de platitudes repetidas pelo campo progressista da atualidade, como se estivesse realmente pregando para convertidos e dizendo exatamente o que os presentes gostariam de ouvir para passar uma imagem republicana e consciente. Bom, antes isso do que nada, né?
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