O cineasta e ator Clery Cunha morreu no último dia 04, aos 85 anos, na sua residência em São Paulo, em decorrência de um câncer.  Mesmo tendo nascido no estado do Goiás, esse filho de pai policial militar que chegou a ser delegado se considerava paulistano, pois foi morar em São Paulo quando tinha apenas oito anos de idade. Na infância, era aficionado por HQ’s, o que certamente alimentou o seu gosto por contar histórias. Antes mesmo de pensar em comandar produções cinematográficas, Clery entrou para o circuito audiovisual em 1956 como operador de cabo na TV Tupi. Aos poucos foi tomando gosto por esse mundo de astros/estrelas e, sobretudo, de contação de histórias, enveredando pelo teatro e pela rádio. Atuou nas peças Sorocaba Senhor e O Amor Venceu, além de dirigir Pluft, o Fantasminha e Entre Quatro Paredes. Não demoraria para mirar o cinema como uma real possibilidade de desenvolver os seus talentos como ator e diretor.

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O COMEÇO NAS TELONAS
Como ator, sua estreia nos cinemas se deu em Conceição (1960), filme que também lançou Mário Benvenutti e teve a participação do teledramaturgo Walter Avancini. Depois de outros papeis como ator, Clery Cunha estreou como diretor em Os Desclassificados (1970), longa-metragem baseado num crime real, um dos primeiros assaltos a carro-forte de São Paulo. A produção era protagonizada por Darcy Silva e Joana Fomm. Logo depois veio A Pequena Órfã (1973), melodrama baseado numa novela da TV Excelsior, Pensionato de Mulheres (1974), Eu Faço…Elas Sentem (1976), estes da época em que estava integrado aos realizadores da Boca do Lixo paulistana, quadrilátero que inclui a rua do Triunfo, a rua Vitória e adjacências, no qual houve intensa atividade cinematográfica desde os anos 1920.

Instagram@clerycunhaoficial / Reprodução

O CINEMA ESPÍRITA
Clery Cunha
lançou em 1980 seu filme mais conhecido como realizador: Joelma 23° Andar, produção atualmente considerada uma precursora do cinema espírita brasileiro. Baseado em Somos Seis, livro psicografado pelo médium Chico Xavier, ele toca no trágico e verídico incêndio do Edifício Joelma que deixou 191 mortos e mais de 300 feridos no dia 1° de fevereiro de 1974. Na trama, a jovem Lucimar e seu irmão Alfredo trabalham num dos escritórios do edifício. No incêndio, Lucimar morre e Alfredo sobrevive. Aconselhada por amigos, a mãe deles procura o médium Chico Xavier em busca de uma mensagem do outro mundo. Dois anos depois, o cineasta dirigiu O Rei da Boca (1982), outra de suas principais obras, mas sem dar prosseguimento ao seu interesse pelo espiritismo. A partir daí, até mesmo por conta dos problemas enfrentados pelo próprio sistema de viabilização de filmes no Brasil, a carreia dele desacelerou. Seu último filme foi o documentário Memórias da Boca (2015).

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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