Os esforços contínuos do governo federal em paralisar, censurar ou controlar a produção audiovisual brasileira refletem, ironicamente, a importância atribuída pelo atual presidente ao poder do nosso cinema. Caso pensasse de maneira estratégica e econômica, Jair Bolsonaro e seus ministros teriam todo o interesse em favorecer uma área que vinha rendendo lucros consideráveis à União. No entanto, os ataques à Ancine, à Cinemateca Brasileira e às leis de fomento comprovam o repúdio à livre produção cultural.
O novo motivo de discórdia dos últimos dias se encontra nos novos representantes do Conselho Superior do Cinema (CSC), escolhidos pelo presidente. O órgão, responsável por formar políticas públicas para o audiovisual, será tomado por membros da grande indústria, especialmente por nomes de empresas internacionais e por um único cineasta, Mauro Ventura, autor de obras alinhadas com a ideologia de seu professor, Olavo de Carvalho. A direção fica por conta de Mário Frias, secretário da Cultura, que nunca escondeu a vontade de cercear a atividade cultural.
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“É como ter como membro do Conselho do Banco do Brasil, e com direito a voto, um executivo do Citibank. Ou ter no Conselho da Petrobras um executivo da British Petroleum”, explicam produtores em carta aberta e conjunta, assinada por dezesseis instituições, e reportada pelo Farofafá, site da Carta Capital. Os cineastas e criadores repudiam, em particular, o fato de “não haver, dentre os indicados, qualquer representante das entidades do setor de produção audiovisual brasileira”.
Em outras palavras, este seria o contrassenso de deixar a escolha de políticas públicas nas mãos do setor privado e das grandes corporações, que obviamente não defendem os interesses da produção independente e autoral. Entre os signatários da carta de protesto encontram-se a APACI (Associação Paulista de Cineastas), a API (Associação de Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro), o Sindicine (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal) e as representações estaduais da ABD (Associação Brasileira de Documentaristas).
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