Passado o incêndio que destruiu definitivamente parte do acervo da Cinemateca Brasileira, o governo federal ainda não tomou medidas para garantir a segurança do patrimônio audiovisual, e tampouco acelerou o processo para reabrir as portas da instituição, cuja sede está fechada desde agosto de 2020. Enquanto artistas brasileiros seguem protestando e chamando atenção ao descaso com a cultura nacional, organizações internacionais reforçam o grito em defesa do maior acervo cinematográfico da América Latina.
Diversas cinematecas mundo afora assinaram documentos exigindo providências da gestão Bolsonaro, além de festivais de peso, como Cannes. Agora, a Cinemateca Portuguesa se une a estas vozes através de uma série de sessões em homenagem à Cinemateca Brasileira e aos funcionários especializados, demitidos sumariamente. A partir de 6 de setembro de 2021, a instituição baseada em Lisboa apresenta sessões quinzenais de filmes brasileiros que ecoam a luta contra o autoritarismo.
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“A 6 de setembro a Cinemateca Portuguesa arranca com uma homenagem à Cinemateca Brasileira que vive atualmente um dos mais conturbados períodos da sua história. Será a primeira de uma série (neste momento prevista com aproximada periodicidade quinzenal) que só será suspensa quando os nossos colegas da Cinemateca Brasileira puderem de novo regressar ao lugar e à missão que lhes compete. Todas as sessões serão de homenagem ao Cinema Brasileiro, à instituição Cinemateca Brasileira e à sua história, e à atual equipa que a representa”, explicam os organizadores.
O filme que abre o ciclo brasileiro é O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha. A escolha emblemática aponta para um dos mais radicais cineastas brasileiros, cujos filmes criticavam sem meios-termos a censura e as violações de direitos humanos praticados pela ditadura militar. Antes de cada sessão, personalidades discursarão aos espectadores presentes através de plataformas virtuais. Estão confirmadas as intervenções dos cineastas Marcelo Gomes, Sérgio Tréfaut e Miguel Gomes, além de Carlos Augusto Calil, ex-diretora da Cinemateca Brasileira, e Vera Zaverucha, ex-diretora da Ancine.