David Lynch, um dos maiores cineastas da História, morreu nesta quinta-feira, 16, aos 78 anos. A causa não foi divulgada pela família, mas ele havia sido diagnosticado no ano passado com enfisema pulmonar grave, tanto que estava impossibilitado de sair de casa e precisava contar com oxigênio extra para conseguir respirar. Portanto, foi-se aquele que mostrou ao cinema norte-americano que era possível sonhar, que as tramas não precisam ser explicadas sempre racionalmente e que elevou o mistério à categoria de arte sublime nos cinemas.
David Lynch nasceu numa família de classe média em Missoula, Montana, nos Estados Unidos. Retratado por amigos de infância como um sujeito popular na escola, mas ainda assim estranho, ele afirmava que sua emancipação emocional havia se dado no momento da descoberta da arte. “Papai amava profundamente meus avós, mas desprezava toda aquela bondade, a cerca de madeira e tudo mais. Ele tem uma ideia romântica daquilo, mas ao mesmo tempo odiava, porque queria fumar cigarros e ter uma vida artística. Os Lynch frequentavam a igreja e tudo era calmo. Aqui o deixava meio pirado”, disse em certa ocasião a filha e também cineasta Jennifer Lynch.
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David Lynch afirmava que o artista Bushnell Keeler havia mudado a sua vida. Ele o conheceu na década de 60. De imediato, Lynch foi impactado pela coragem de largar tudo (estabilidade) e viver de arte. Ainda nos anos 60, já como artista em formação, ele foi morar na Filadélfia. Havia na cidade uma escassez de moradias e um cenário em que havia tensão entre grupos reivindicando direitos civis, Lynch e seu amigo, Jack Fisk (diretor de arte), se dedicaram a estudar e pintar, chegando a alugar a casa vizinha a um necrotério.
Em 1967, quando David Lynch pintava uma figura em pé entre folhagens, sentiu o que descreveu como “um ventinho” e teve a sensação de que a pintura se moveu. Aquilo acionou um gatilho em sua mente, abrindo caminho para uma das mais importantes carreiras cinematográficas do século 20. Seu primeiro filme/tela foi Seis Homens Passando Mal (Seis Vezes). Mais tarde, foi estudar no American Film Institut, onde por anos filmou seu longa-metragem de estreia, o desconcertante Eraserhead (1977).
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No entanto, a consagração de David Lynch para um público mais amplo se deu em seu longa-metragem seguinte, O Homem Elefante (1980), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Direção. Seduzido por Hollywood, embarcou na “canoa furada” chamada Duna (1984), por isso negando o convite para dirigir um filme da saga Star Wars. O resultado foi aquém de público e crítica, quase decretando o fim precoce de sua carreira. Felizmente, pouco depois ele lançou Veludo Azul (1986), por muitos considerada uma obra-prima do cinema estadunidense dos anos 1980, em certa medida também um prenúncio de sua contribuição para uma verdadeira revolução na TV norte-americana.
David Lynch foi um artista brilhante que nos presenteou nos cinemas com obras do calibre de Coração Selvagem (1990), A Estrada Perdida (1997), Uma História Real (1999), Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos (2006), enigmas que conservam a veia contestadora desse artista de penteado alusivo à juventude dos anos 1950 – década preferida dele, muitas vezes referenciada em seus filmes.
No entanto, não temos como terminar esse breve obituário sem citar Twin Peaks (1997-2017), série de TV considerada um divisor de águas. A trama começa com a garota mais popular de uma pequena cidade norte-americana encontrada morta, envolta em plástico. Aos poucos, o lado mais obscuro da então pacata Twin Peaks vem à tona enquanto a pergunta ecoava na cultura pop: quem matou Laura Palmer?
David Lynch se foi deixando um legado sem igual, entristecendo seus admiradores/órfãos. Como diz uma das falas icônicas de Cidade dos Sonhos, uma de suas obras-primas: “SILÊNCIO, NÃO HAY BANDA, NÃO HAY ORQUESTRA”. Obrigado por tudo, Lynch.
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