Em plena época de ataques institucionais à cultura e aos artistas, o cinema brasileiro conquista mais um feito inédito fora do país: Democracia em Vertigem (2019), dirigido por Petra Costa, foi indicado ao Oscar de melhor documentário. Ele foi escolhido pelos votantes do Oscar como um dos cinco melhores do ano entre muitas centenas de candidatos, superando favoritos como One Child Nation (2019) e Virando a Mesa do Poder (2019).
Devido ao tema do filme – o golpe contra o governo Dilma para colocar Michel Temer no poder e tirar o PT da presidência – as respostas foram imediatas e calorosas ao sucesso internacional. O documentário tinha suscitado fortes reações durante sua divulgação na Netflix, e voltou a refletir os ataques de campos conservadores.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na saída do Palácio da Alvorada, nesta terça-feira, que não assistiu ao filme. “Eu vou perder tempo com uma porcaria dessas?”, disparou. Mesmo assim, criticou a obra à qual não assistiu, chamando-a de “ficção”: “Para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme”, concluiu, antes de criticar um livro da jornalista Thaís Oyama, ainda não publicado, expondo segredos da presidência. O Secretário da Cultura, Roberto Alvim, alfinetou: “Se fosse na categoria ficção, estaria correta a indicação”.
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O PSDB, personagem-chave na narrativa do golpe, também recorreu à chacota para minimizar os méritos da cineasta. Na conta oficial do partido, uma mensagem foi rapidamente publicada para ironizar a indicação: “Parabéns à diretora Petra Costa pela indicação de melhor ficção e fantasia por Democracia em Vertigem“.
À Folha de São Paulo, a diretora reafirmou a importância de levar ao mundo inteiro a mensagem sobre o perigo que corre o Brasil sob um governo autocrático: “Essa história começou como nacional e se tornou global. Precisamos de todos os esforços, seja através de narrativas ou movimentos políticos, para resgatar o estado de direito antes que seja tarde demais”.
Dilma Rousseff, que tem se exposto com bastante franqueza sobre a situação política pós-2016, comemorou a indicação do Brasil ao Oscar: “O filme é corajoso, por mostrar o jogo sujo que resultou no meu afastamento do poder e como a mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema-direita em 2018. Parabéns a Petra e à equipe do filme pela indicação ao Oscar. A verdade não está enterrada. A história segue implacável contra os golpistas”.
Em sua conta no Twitter, o ex-presidente Lula também comemorou o feito: “Parabéns, Petra Costa, pela seriedade com que narrou esse importante período de nossa história. Viva o cinema nacional! A verdade vencerá”.
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