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Nesta sexta-feira, 12, a Netflix vai lançar globalmente Destacamento Blood (2020), o mais novo filme do cineasta Spike Lee. Entretanto, por trás desse acordo de produção e distribuição com a gigante do streaming há uma história bastante sintomática dos rumos que Hollywood vem tomando nos últimos anos. Ao contrário do que muitos pensam, Lee não teve vida fácil para tirar do papel o projeto focado no retorno de soldados negros ao Vietnã, onde outrora combateram, a fim de buscar um tesouro. Numa recente entrevista ao The Hollywood Reporter, o realziador comentou que por um triz o projeto não acabou no escaninho “projetos quase feitos de Spike Lee”.

“Quase não fizemos o filme. Batemos na porta de todos os estúdios e eles recusaram. Aliás, tive muitos projetos recusados ao longo da minha trajetória. Os executivos não dizem que os odeiam, apenas falam: ‘Não, simplesmente não é para nós’. Estou nesse jogo há muito tempo. Então, quando alguém não aceita fazer um filme, não vou ficar do tipo: ‘mas por que você não vai fazer meu filme?’ Apenas sigo adiante depois de dizer ‘obrigado’. Não vou sentar e chorar, tento me manter em movimento. Não haveria para onde ir sem a Netflix”, afirmou o cineasta.

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Vale lembrar que enquanto alguns torcem o nariz para essas novas superpotências do streaming, sobretudo com medo que o novo mercado canibalize as salas de cinema, outros veem com olhos menos apocalípticos esses players de um mercado em mutação. Martin Scorsese, por exemplo, realizou O Irlandês (2019) sob o guarda-chuva da Netflix e vai fazer seu próximo filme com dinheiro e estrutura da Apple. Alfonso Cuarón cansou de dizer que Roma (2018) não teria o mesmo alcance num esquema tradicional de produção/distribuição. Perguntado sobre a vontade de ver Destacamento Blood nos cinemas convencionais, tão logo a pandemia do Covid-19 dê uma folga, Spike Lee demonstrou cautela: “Espero que sim, mas apenas quando for seguro. Há salas abertas neste momento, mas eu próprio não as frequentaria agora. Mas espero que em algum momento as pessoas consigam vê-lo na telona”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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