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Se prepara que lá vem uma história belíssima de amor incondicional pelo cinema. No fim de 2019, no dia 12 de dezembro, o cineasta Chico Teixeira morreu aos 61 anos depois de lutar arduamente contra o câncer de pulmão. Premiado realizador de longas como A Casa de Alice (2007) e Ausência (2014), em meio ao tratamento, ele trabalhava na produção do próximo trabalho. A reportagem do Papo de Cinema conversou com Lili Bandeira, tarimbada produtora e amiga de Chico, que  nos detalhou como estava se dando a programação: “De um ponto em diante o Chico sabia que iria morrer, pelo estágio avançado da doença. Montamos um esquema todo especial de produção para que, inclusive, ele trabalhasse menos horas por dia, mas a fim de que conseguisse codirigir com seu amigo Marcelo Gomes. Infelizmente não deu tempo, pois ele piorou repentinamente”, conta a profissional.

De acordo com Lili, Chico vinha trabalhando avidamente em Dolores dois meses antes de seu estado de saúde se agravar irreversivelmente. Já havia acontecido algumas sessões de leitura com Fátima Toledo, preparadora de elenco e colaboradora contumaz do diretor carioca. A ideia é que Marcelo Gomes estivesse livre após abril de 2020, prazo previsto para o encerramento das filmagens de um projeto solo que acabou tendo seu andamento interrompido por conta da pandemia do Covid-19. Se estivesse tudo dentro do programado, Dolores começaria a ser rodado em junho de 2020. Ciente de seu estado irreversível, segundo Lilli, Chico dizia: “Não vou deixar meu melhor roteiro na gaveta”. Infelizmente a piora do cineasta não o deixou conduzir o que seria o seu último filme.

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Embora ainda não tenha sido aberto por conta dos recessos judiciais impostos pela pandemia, o testamento de Chico Teixeira prevê recursos financeiros à realização de Dolores, gesto derradeiro que reafirma o amor do saudoso artista pelo cinema. “Não sabemos ainda, ao certo, quanto está contemplado no testamento, mas a previsão dos fundos é notória entre amigos e familiares, até porque ele falou disso em vida, que há um montante destinado à realização do filme. Quanto à finalização e distribuição podemos pleitear editais, inclusive internacionais”, disse Lili. De concreto se sabe que Marcelo Gomes (direção), Marquinhos Pedroso e Juliana Lobo (Direção de Arte) e Inês Mulin (assistência de direção), colegas de longa data do falecido autor, estão confirmados na equipe. E Carla Ribas, que se consagrou no cinema com sua interpretação visceral de Alice no primeiro longa de Chico, viverá Dolores.

Dolores aborda três gerações de mulheres. A personagem-título é uma senhora solar e efusiva, comportamento que a coloca em rota de colisão com a filha e a faz se conectar mais diretamente com a neta. Para o papel da filha há a vontade de contar com a atriz Gilda Nomacce. Já a neta ainda precisa ser escolhida. Com produção da Dezenove Som e Imagens, de Sara Silveira, o filme deve ser rodado assim que possível. “Vamos refazer a lógica da produção, agora sem o Chico e começar assim que possível”, conta Lili que desempenhará a função a produtora executiva, a quem agradecemos pela simpatia e disponibilidade.

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O saudoso Chico Teixeira – Foto: Greg Salibian
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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