Nesta terça-feira, dia 10, foram anunciados os filmes selecionados para a 25ª edição do É Tudo Verdade, maior festival brasileiro dedicado aos documentários, que será organizado entre 26 de março e 5 de abril em São Paulo, e entre 31 de março e 5 de abril no Rio de Janeiro. Durante a coletiva de imprensa, o curador e diretor artístico Amir Labaki desenhou tanto um cenário de crise profunda quanto um desejo de resistência através do cinema:
“A cultura brasileira está abandonada, com raras exceções. Por isso, são fundamentais as parcerias”, afirmou, em menção à participação ainda maior do Itaú e Itaú Cultural na edição 2020. Além dele, o circuito Sesc participa com cinemas importantes como o Sesc 24 de Maio, ao passo que o circuito Spcine contribui com aporte financeiro, circuito de salas e também a exibição gratuita de filmes do catálogo por meio do serviço Spcine Play.
“A indústria cultural está sendo paralisada, e estão tentando retroceder. Mas não vamos retroceder”, defendeu Labaki. “Infelizmente, neste país a cultura não é prioridade. Se fosse, o Museu Nacional não teria queimado. É um milagre um festival como o É Tudo Verdade existir há 25 anos”.
Laís Bodanzky, cineasta e diretora da Spcine, enxerga o festival como “o abre-alas, o primeiro evento do ano” com o qual a instituição firma parceria. Ela concorda com a situação de crise institucional da cultura, mas frisa a resistência local em relação à gestão federal: “Não vejo os municípios concordando com esse ataque à cultura, muito pelo contrário”.
Eduardo Saron, em nome do Itaú, lembrou que a cultura constitui o segundo setor de maior crescimento econômico no país, responsável pela geração de milhares de empregos. Para ele, o festival serve não apenas para disponibilizar obras de alto nível ao público, mas também para “ativar redes orgânicas entre diretores, produtores e exibidores” responsáveis pela dinâmica da produção cultural.
O Festival É Tudo Verdade traz este ano 83 filmes diferentes em seis salas. A sessão de abertura ocorre em São Paulo com o filme Golpe 53 (2019), de Taghi Amirani, sobre o golpe de Estado no Irã orquestrado por Estados Unidos e Reino Unido. Os cariocas começam o evento com A Cordilheira dos Sonhos (2019), de Patricio Guzmán, que efetua uma ponte entre a ditadura chilena e a geografia local.
A competição brasileira torna-se ainda mais acirrada: ao invés de sete filmes concorrendo ao prêmio máximo, serão dez concorrente este ano, graças à qualidade da seleção, como afirma Labaki. Os concorrentes são:
- A Ponte de Bambu, de Marcelo Machado
- Atravessa a Vida, de João Jardim
- Dentro da minha Pele, de Toni Venturi
- Fico te Devendo uma Carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin
- Jair Rodrigues – Deixa que Digam, de Rubens Rewald
- Libelu – Abaixo a Ditadura, de Diógenes Muniz
- Meu Querido Supermercado, de Tali Yankelevich
- Não Nasci para Deixar meus Olhos Perderem Tempo, de Cláudio Moraes
- Os Paralamas do Sucesso – Os Quatro, de Roberto Berliner e Paschoal Samora
- Segredos de Putumayo, de Aurélio Michiles
Além destes, a competição internacional traz grandes filmes aclamados em festivais como O Fator Humano e Collective – este último, apresentado aos jornalistas pela manhã. Em paralelo às sessões de filmes – que ainda incluem os curtas-metragens, as mostras Latino-Americana e O Estado das Coisas -, serão organizadas conferências, debates e seminários. Para comemorar os 25 anos, a retrospectiva do festival busca mostrar como fenômenos políticos e sociais de 2020 eram previstos pelo cinema de décadas atrás.
Você encontra mais informações sobre os filmes, horários e locais de exibição na página oficial do É Tudo Verdade.
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