Morreu nessa quinta-feira, 20 de janeiro de 2022, a cantora e compositora Elza Soares. Ela estava com 91 anos e faleceu de causas naturais, em sua casa, no Rio de Janeiro. Nascida em 23 de junho de 1937, na capital carioca, era considerada uma das vozes mais emblemáticas do Brasil. Elza lançou ao longo de uma carreira de mais de seis décadas um total de 34 álbuns. O início se deu em 1959, como parte da cena do sambalanço com “Se Acaso Você Chegasse”. Ainda nos anos 1950, ao participar de um programa de calouros de auditório, quando era não mais do que uma desconhecida, foi questionada pelo apresentador, o célebre Ary Barroso, de forma inusitada: “de que planeta você vem, menina?”. E ela respondeu sem hesitar: “do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do Planeta Fome”. Não por acaso, seu último trabalho se chamava “Planeta Fome”, lançado em 2019.
Após um começo de impacto, que gerou parcerias com nomes como Miltinho (1928-2014) e Wilson das Neves (1936-2017), se focou no samba. Nos anos seguintes, se aventurou por outros estilos, como jazz, eletrônica, hip hop e funk. Como atriz, seu primeiro trabalho foi no longa Briga, Mulher e Samba (1960), quando atuou ao lado de astros da época, como Violeta Ferraz, Ronaldo Lupo, Renata Fronzi e Matinhos – mesmo com destaque menor, seu nome já aparecia no cartaz. Uma das suas parcerias mais frequentes foi com o comediante Mazzaropi, tendo atuado ao lado dele em três filmes: O Vendedor de Linguiça (1962), O Puritano da Rua Augusta (1965) e Um Caipira em Bariloche (1973). Outro destaque foi o longa O Cinema Falado (1986), dirigido por Caetano Veloso, no qual aparece como mais um dos diversos nomes de peso de um elenco multiestrelado, de Regina Casé a Júlio Bressane, de Dorival Caymmi a Gilberto Gil, de Mick Jagger a Lulu Santos.
Sua última aparição como atriz foi como Ana, uma das cantoras que anima o baile de Chega de Saudade (2007), de Laís Bodanzky. Alguns anos depois emprestou sua voz como uma das dubladoras da animação A História Antes de uma História (2014), que foi indicada ao Prêmio Guarani e ao Prêmio Platino como um dos melhores projetos do gênero daquele ano. Participou das trilhas sonoras de diversos sucessos do cinema nacional, como Lisbela e o Prisioneiro (2003), Muito Gelo e Dois Dedos d’Água (2006), Estamos Juntos (2011) e a série Segunda Chamada (2019-2021).
Em 2018, a grande dama foi tema do documentário My Name is Now, Elza Soares, de Elizabete Martins Campos. Indicado em quatro categorias no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o Oscar da produção nacional – foi premiado como Melhor Longa Documentário (pelo júri popular) e como Melhor Trilha Sonora Original, rendendo para Soares o troféu Grande Otelo! A diva também se tornou conhecida como esposa do jogador de futebol Garrincha. Os dois ficaram juntos entre 1966 e 1977, e tiveram um filho, em 9 de julho de 1976. Manoel Francisco dos Santos Junior, o Garrinchinha, faleceu aos 9 anos, em um acidente de carro. Na cinebiografia do craque, Garrincha: Estrela Solitária (2003), de Milton Alencar, Soares foi interpretada por Taís Araújo. Sua performance lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema Brasileiro de Miami.
Elza Soares seguia fazendo shows até antes da pandemia do Covid-19. Durante o período de quarentena e isolamento social, chegou a se apresentar em lives. Atualmente, estava produzindo um novo álbum de estúdio, que poderá ter lançamento póstumo. Em 1999, foi eleita pela Rádio BBC, de Londres, a “cantora brasileira do milênio”. Já a revista Rolling Stone Brasil a incluiu na lista das 100 maiores vozes da música brasileira. Coincidentemente, sua morte se deu exatos 39 anos após a partida do ex-marido Garrincha, falecido em 20 de janeiro de 1983.
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