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Nenhuma grande produção brasileira teve tanta dificuldade para chegar ao circuito comercial recentemente quanto Marighella (2019). Enquanto filmes independentes, sobretudo documentários, lutam para encontrar espaço nas salas de cinema, esperando às vezes mais de um ano após a finalização, Marighella tinha tudo para se tornar um sucesso de bilheteria dois anos atrás: nomes famosos no elenco (Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Herson Capri, Luiz Carlos Vasconcellos), a direção de um ator querido (Wagner Moura) e o formato de um filme popular de ação, baseado numa história brasileira real.
No entanto, a biografia sobre o guerrilheiro Carlos Marighella, que lutou contra a ditadura militar, encontrou obstáculos inesperados desde a primeira, e bem-sucedida, exibição no Festival de Berlim 2019. O lançamento foi adiado inúmeras vezes, em partes por discordância quanto à estratégia de lançamento, em partes por questões burocráticas relacionadas à Ancine. Moura chegou a acusar o caso de censura. O filme ganhou uma nova data em 2020, suspensa desta vez devido à pandemia de Covid-19.
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Marighella

Agora, finalmente, a Paris Filmes e a Downtown Filmes confirmaram o lançamento para 4 de novembro de 2021, com pré-estreias a partir de 1 de novembro. A data não foi escolhida por acaso: 4 de novembro marca 52 anos desde que o militante foi brutalmente assassinado pelos agentes do governo, em 1969. Assim, no momento onde um capitão do exército e defensor da tortura ocupa a presidência da república, o público pode descobrir o outro lado desta sangrenta história.
Resta esperar que o público prestigie a obra brasileira dedicada tanto à memória dos heróis nacionais quanto ao prazer do público amplo: Moura se esforça em produzir um cinema repleto de ação e emoção, no estilo consagrado por Tropa de Elite (2007). Para os detratores da esquerda, não há preocupação: longe de idealizar o líder comunista, o roteiro reflete sobre as decisões controversas do protagonista, inclusive aqueles contestadas pelos próprios amigos de Marighella. Além disso, a trilha sonora, com música de Mano Brown, é excelente.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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