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Nunca antes na história do cinema houve uma paralisação do porte da ocorrida neste exato momento, devido à pandemia de coronavírus. Das filmagens à exibição, praticamente todos os setores da cadeia produtiva estão estagnados, devido ao necessário distanciamento social. Isto, é claro, trará consequências.

A primeira delas foi o adiamento de um sem número de filmes, entre eles praticamente todos os grandes lançamentos do próximo verão americano. Com as salas fechadas, governos de vários países estudam a concessão de algum subsídio para evitar que elas deixem de funcionar de vez. Em recente estudo, a Gower Street Analytics previu o impacto econômico decorrente da pandemia no mercado cinematográfico dos Estados Unidos: no melhor dos cenários, queda de 40% em relação a 2019.

Para chegar a tal análise, levou-se em conta o fechamento total das salas de cinema por três meses. Tal estimativa leva em consideração o próprio rearranjo de lançamentos feito pelos estúdios, que estimam que a situação retorne a alguma normalidade ao término do primeiro semestre. Não por acaso, a Warner manteve a estreia de Tenet para 17 de julho e a Disney remarcou Mulan para o dia 26 do mesmo mês.

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“Mulan” foi um dos filmes adiados devido à pandemia de coronavírus

 

Caso as 5400 salas existentes nos Estados Unidos fiquem fechadas por este período, e todas reabram ao término da pandemia, será preciso ainda levar em conta qual será o comportamento do público neste retorno ao cotidiano. Caso a ida aos cinemas mantenha o mesmo ritmo existente até então, a previsão é que o faturamento de 2020 seja em torno de US$ 6,8 bilhões. Se as salas permanecerem fechadas por apenas dois meses, o número melhora um pouco e chega a US$ 7,09 bilhões.

Vale lembrar que, em 2019, o mercado americano de cinema faturou US$ 11,4 bilhões. A última vez em que não se chegou à marca de US$ 7 bilhões foi em 1998, quando foram arrecadados US$ 6,25 bilhões através da bilheteria.

O cenário não é diferente na análise global do mercado cinematográfico. O mesmo estudo aponta que as bilheterias mundiais devem fechar o ano em torno de 22 e 25 bilhões de dólares. Em 2019, é preciso lembrar, o faturamento foi de US$ 42,2 bilhões.

Tais números podem ser ainda menores devido ao comportamento do público após o retorno das salas de cinema. Recente pesquisa realizada pela EDO aponta que 56% do público americano prefere aguardar algum tempo antes de retornar às salas, sendo que 11% indicam que apenas voltarão após alguns meses. Ou seja, o cenário de que as salas terão o mesmo público de antes é pouco provável.

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Isolamento social tem gerado a explosão do streaming

 

Enquanto a quarentena não chega ao fim, quem tem crescido bastante é o streaming. A Comscore divulgou análise que aponta um crescimento de 30% no VOD nos Estados Unidos, em março. Soma-se a isto o aumento em 85% no uso das plataformas, como Netflix, Disney+ e Amazon Prime, no mesmo período. Com mais tempo disponível e sem ter outro local a quem recorrer, o streaming já é uma ameaça ao retorno do status quo existente. O quanto este novo hábito influenciará o mercado cinematográfico, só o tempo poderá dizer.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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