O terceiro dia da mostra competitiva no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim trouxe duas obras bem diferentes aos jornalistas. Por um lado, o alemão Christian Petzold, queridinho do festival e autor de obras consagradas como Barbara (2012) e Em Trânsito (2018) apresentou sua nova fábula, Undine (2020). Por outro lado, o cinema brasileiro foi representado por dois diretores jovens e ousados, com um estilo raro dentro dos grandes festivais: Caetano Gotardo e Marco Dutra, que exibiram Todos os Mortos (2020).
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A dupla brasileira apresentou um estudo sucinto das raízes do racismo no país através de um momento de transformação da nossa História, o ano de 1899. Gotardo e Dutra abordam uma família aristocrata decadente, que se recusa a abrir mão de seus privilégios, embora seja confrontada à liberdade dos escravos e à emancipação das famílias que os serviam.
O filme retrata o declínio do Império, da era do café, dos núcleos de barões e da perseguição a ex-escravos libertos. O roteiro confronta o cristianismo às religiões pagãs, a dominação branca à resistência negra, a autonomia masculina à emancipação feminina. Por mais rica que seja a sua alegoria política, Todos os Mortos recorre a um ritmo vagaroso e verborrágico que parece ter enfrentado certa resistência entre a imprensa internacional.
Já Undine continua a trajetória de Christian Petzold pelo realismo fantástico. Assim como na trama de Em Trânsito, o espectador não saberá, dentro deste triângulo amoroso envolvendo uma historiadora (Paula Beer), um mergulhador (Franz Rogowski) e um ex-namorado controlador (Jacob Matschenz), o que de fato está acontecendo, visto que a história efetua caminhos impossíveis e mesmo mágicos, driblando a morte algumas vezes.
O diretor se inspira no ser mitológico das águas, elemento que será muito importante na história. Por mais que a liberdade formal conduza a bons momentos de humor inesperado, dificilmente Undine terá o mesmo acolhimento de obras mais políticas e ousadas do cineasta, como Barbara e Phoenix (2014). Resta saber se o júri se encantará com a fábula amorosa. Leia a nossa crítica.
Completando a experiência de cinema de fantasia, Pinocchio (2020), de Matteo Garrone, trouxe uma releitura inesperada do conto clássico. Desta vez, o fato de mentir até ficar com o nariz grande se torna secundário na história do garoto que vive uma longa jornada entre animais fantásticos e homens corruptos.
Por mais difícil que seja se adaptar aos ostensivos efeitos especiais, que não contribuem à ideia de um boneco de madeira de fato, a produção se mostra competente, e Roberto Benigni está muito bem no papel de Gepetto. Fosse um tanto mais curta, a resultado seria ainda melhor. Mesmo assim, deve ter potencial para encantar o público infantil. Leia a nossa crítica.
O dia 24 de fevereiro trará dois novos concorrentes ao Urso de Ouro na Berlinale: o franco-belga Delete History (2020) e o suíço My Little Sister (2020).
:: Confira nosso especial com a cobertura completa da Berlinale 2020 ::
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