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O 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim terá sessões até o dia 1º de março, no entanto, nesta sexta-feira foram apresentados os últimos concorrentes ao prêmio máximo, o Urso de Ouro. Em estilos diferentes, eles abordam dois temas fortes: os horrores da Segunda Guerra Mundial e os traumas deixados pela pena de morte no Irã.

 

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Irradiated (2020), de Rithy Panh, constitui o único documentário na mostra competitiva. O cineasta efetua uma leitura filosófica-poética dos horrores da guerra, utilizando essencialmente materiais de arquivo com cadáveres humanos, crianças mutiladas e adultos subnutridos. Enquanto isso, uma narração evoca nosso papel diante da barbárie.

O cineasta possui longa tradição investigando violações de direitos humanos, e sua seleção de imagens é bastante potente, sem falar na boa utilização de performances teatrais para evocar as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. No entanto, o resultado corre o risco de soar retórico, apenas repetindo o caráter nocivo das guerras. Leia a nossa crítica.

 

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There Is No Evil (2020), de Mohammad Rasoulof, traz quatro histórias independentes sobre homens obrigados a executarem outros iranianos condenados à pena de morte. Em comum, eles carregam danos psicológicos profundos, e alguns chegam a fugir do exército para não precisarem participar de execuções.

O projeto traz uma produção imensa, com dezenas de cenários, vários personagens e muitas situações, sempre bem dirigidas e editadas. Apesar de tamanho esmero, a organização dos segmentos se torna pouco orgânica, evoluindo do suspense ao melodrama, e apenas reincidindo na mesma mensagem contrária às execuções. Leia a nossa crítica.

 

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Em paralelo, a seção Berlinale Specials também trouxe seu último filme: o drama francês Police (2020), dirigido por Anne Fontaine e estrelado por Omar Sy e Virginie Efira. Eles interpretam policiais encarregados de conduzirem um refugiado ao aeroporto, de onde deve ser deportado ao seu país. No entanto, ao descobrirem que ele corre risco de morte em sua terra natal, pensam em burlar as leis para protegê-lo.

Por mais bem-intencionado que seja, o projeto transforma a polícia francesa em uma instituição unicamente generosa, cujos membros sacrificam a vida pessoal em nome do bem estar de todos. Apesar da inegável presença de policiais dedicados em qualquer corporação, a romantização deste trabalho soa absurda numa França marcada por atritos violentos nas ruas há meses, desde a manifestação dos coletes amarelos. Leia a nossa crítica.

 

No sábado, 1 de fevereiro, serão conhecidos os vencedores da 70º Berlinale. O Brasil concorre na mostra principal com o drama Todos os Mortos (2020), dirigido por Caetano Gotardo e Marco Dutra.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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