Foi dada a largada ao 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim! Ao invés de reservar poucas sessões para o seu primeiro dia, como de costume, a Berlinale decidiu exibir diversos filmes desde o começo, para a alegria e desespero dos jornalistas que precisaram correr de um cinema ao outro. Resultado: o novo filme do aclamado diretor Jia Zhang-ke foi exibido na mesma hora da coletiva de imprensa do júri, o que fez diversos jornalistas abandonarem a sessão pela metade, enquanto o extenso Malmkrog de Cristi Puiu (com 3h20 de duração) impedia os credenciados de assistirem a dois filmes, exigindo algumas escolhas complicadas. Ossos do ofício.
Em especial, os jornalistas assistiram ao filme de abertura desta edição: My Salinger Year (2020), comédia dramática de Philippe Falardeau baseada no best-seller de mesmo nome. Na trama, a jovem Joanna (Margaret Qualley) é contratada na agência literária que cuida das obras de J.D. Salinger. Aos poucos, ela ganha confiança da rígida chefe (Sigourney Weaver) para prosseguir em sua própria carreira de escritora. O resultado é uma obra comportada, com alguns bons momentos, mas sem uma única cena mais forte ou ambiciosa. Um feel good movie pouco expressivo – não exatamente o que se espera de um festival deste porte. Leia a nossa crítica.
Ao menos, o dia atribulado trouxe algumas boas surpresas. Em especial, El Tango del Viudo e su Espejo Deformante (1967/2020), filme de estreia que o cineasta Raúl Ruiz jamais concluiu em vida, foi terminado por sua viúva, a cineasta Valeria Sarmiento. Utilizando as imagens originais, ela criou novos diálogos e uma banda sonora inteiramente inédita, conectando as vanguardas latinas dos anos 1960 com o cinema contemporâneo. O resultado é uma obra experimental atípica e deliciosa em sua pesquisa de linguagem. Leia a nossa crítica.
O novo projeto de Jia Zhang-ke também trouxe bons momentos à Berlinale. O documentário pessoal Swimming Out Till the Sea Turns Blue (2020), produção mais modesta do que as ficções do cineasta, efetua uma leitura sobre a história pessoal de escritores chineses, buscando compreender de onde veio o interesse pelas artes em regiões tradicionalmente rurais. Apesar da estrutura convencional, traz bons momentos de conexão entre história dos indivíduos e história do país. Leia a nossa crítica.
A decepção do dia ficou por conta de Minamata (2020), biografia histórica estrelada por Johnny Depp. Ele interpreta W. Eugene Smith, fotógrafo da revista Life que viajou ao Japão e enfrentou ameaças das autoridades ao retratar os casos de contaminação por mercúrio, provocadas pela poluição de grandes empresas. O drama está repleto de clichês do cinema de inspiração (frases de efeito, música sentimental, herói que supera suas falhas e se torna uma pessoa boa no final), o que despertou algumas risadas na sala de cinema e uma conclusão sem uma única palma entre os jornalistas. Leia a nossa crítica.
O dia 21 de fevereiro apresenta os dois primeiros filmes da competição oficial: El Prófugo (Argentina) e Volevo Nascondermi (Itália), além do aguardado Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (2020), nova animação dos estúdios Pixar.
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