Para a imprensa presente no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, o cinema brasileiro aparenta atravessar o seu melhor momento: teremos pela primeira vez dezenove filmes selecionados nas mais diversas categorias, incluindo Todos os Mortos (2020), de Marco Dutra e Caetano Gotardo, na disputa pelo cobiçado Urso de Ouro. Além disso, o diretor Kleber Mendonça Filho compõe o júri oficial de longas-metragens.
No entanto, para o novo curador e diretor artístico, Carlo Chatrian, há motivos de preocupação com a gestão da indústria de cinema no Brasil pelo governo Jair Bolsonaro. Ele acredita que a conclusão de tantos filmes importantes ao mesmo tempo se deve ao receio das diretrizes atuais: “Muitos produtores sabiam que se deixassem para o ano seguinte poderiam não ter mais financiamento, porque a Ancine poderia fechar. Por isso, eles correram para terminar seus filmes com o dinheiro disponível”, afirmou à DW. “Estamos muito preocupados”.
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Mesmo assim, o italiano acredita que a qualidade das obras selecionadas fala por si própria: “Não escolhemos tantos filmes brasileiros para fazer um posicionamento político. Eles foram escolhidos porque são filmes fortes. Temos uma grande diversidade. É a melhor resposta para quem diz que o cinema brasileiro não está vivo, e não deve ser financiado”.
Antigo curador do festival de cinema de Locarno, Chatrian garantiu um aumento exponencial na participação Brasileira na Berlinale. Os anos de 2019 e 2018 tinham apresentado doze filmes brasileiros em cada edição, o que representava um recorde de participação até então. O curador, no entanto, se considera admirador das nossas produções, considerando que o cinema brasileiro “foi uma fonte de inspiração para mim quando era jovem, com o Cinema Novo e o Cinema Marginal”.
A 70ª Berlinale ocorre entre os dias 20 de fevereiro e 01 de março, com cobertura diária do Papo de Cinema.