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Com a inédita e vigorosa participação do cinema brasileiro no Festival de Berlim deste ano, no qual serão exibidos 19 produções nacionais, é claro que muito se tem falado sobre o que será do futuro da sétima arte ao longo do governo Bolsonaro. Com a Ancine paralisada devido a trâmites burocráticos, adiando a produção de centenas de projetos audiovisuais, a preocupação sobre o futuro do setor já foi tema de declarações tanto de Kleber Mendonça Filho, integrante do júri oficial deste ano, quanto de Carlo Chatrian, novo diretor artístico da Berlinale. Agora chegou a vez de Sara Silveira fazer sua defesa ao cinema brasileiro durante o evento.

Produtora de Todos os Mortos, que integra a mostra competitiva pelo Urso de Ouro, Sara esteve na coletiva de imprensa realizada neste domingo, logo após a primeira exibição do longa-metragem, e não perdeu a oportunidade de protestar acerca da realidade atual do setor. “Os meninos, Marco [Dutra] e Caetano [Gotardo], e ainda a montadora Juliana [Rojas], estão juntos há algum tempo fazendo filmes, tentando mostrar e encontrar um lugar social para toda a comunidade brasileira. Hoje, com dificuldades enormes com um governo de extrema direita que ataca nossa cultura, nossa educação e nosso audiovisual. Nós, com essas parcerias e estes meninos criativos e inteligentes, conseguimos dizer coisas e mostrar o quanto estamos trabalhando, em um filme que envolveu 700 pessoas, direta e indiretamente.”

“A indústria brasileira de cinema, ou o que a gente chama de indústria ainda, tem 500 mil pessoas que trabalhavam há um ano para o trabalho do audiovisual. Nós somos totalmente tolhidos e freados por um governo que não entende, talvez porque lhe falta inteligência, para prosseguir. Se são tão neoliberais, por que não entendem que nós proporcionamos emprego e ideias, diversidades, sobretudo resistência?”

“Enquanto existir como mulher, tenho 69 anos de idade, eles terão que ouvir e ver meus filmes! Porque estarei sempre lutando e mostrando para eles! É difícil nos calar, com a força que a gente tem! E vou dizer uma coisa, para o Brasil e para o mundo: eu não preciso de armas, eu preciso de força, de amor, de coragem e de momentos heroicos para suportar o que nós estamos vivendo. Mas aguardem, nós vamos resistir! Nós vamos vencer! Nós, todas as raças, todos os gêneros, os artistas, estamos juntos, todos estamos aqui gritando por liberdade, democracia, contra a censura e resistência!”

O Papo de Cinema segue sua cobertura no Festival de Berlim deste ano, onde o incansável Bruno Carmelo publica diariamente críticas, notícias e Instagram Stories sobre o que de melhor (e de pior) acontece na Berlinale.

 

:: Confira nosso especial com a cobertura completa da Berlinale 2020 :: 

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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