O 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim tem sido bem-sucedido na tarefa de colocar os filmes da competição em pares ou trios, de modo a dialogarem por suas temáticas ou estilos dentro de cada dia de exibição. A segunda-feira, dia 24, trouxe no entanto dois filmes em estilos opostos. Enquanto o suíço My Little Sister (2020) aposta num drama tradicional, envolvendo doenças mortais e superação, o franco-belga Delete History (2020) prefere o humor mordaz para retratar a nossa dependência de telefones celulares e serviços digitais.
LEIA MAIS
Festival de Berlim 2020 :: Produtora de Todos os Mortos, Sara Silveira brada por resistência à censura
Festival de Berlim 2020 :: Brasil escancara herança do racismo em Todos os Mortos
Festival de Berlim 2020 :: O cinema moderno de Kelly Reichardt e o cinema antiquado de Philippe Garrel
My Little Sister, dirigido por Stéphanie Chuat e Véronique Raymond, apresenta a história de dois irmãos gêmeos: Lisa (Nina Hoss), que trabalha como professora de literatura e dramaturga, e Sven (Lars Eidinger), ator renomado. Quando descobrem que ele possui um câncer em estado avançado, partem para a tentativa de um transplante arriscado.
O resultado corresponde ao que se chamaria popularmente de “filme para chorar”: existem boas intenções, personagens que brigam e reatam, muito sofrimento e otimismo. Hoss e Eidinger são excelentes atores, e têm boas chances de serem recompensados por seus trabalhos. No entanto, este cinema soa previsível e seguro demais para um festival tão preocupado com os novos rumos do audiovisual quanto Berlim. Leia a nossa crítica.
Já Delete History, de Gustave Kervern e Benoît Delépine, leva o habitual cinema cômico da dupla a um novo patamar de acidez. Na trama se encontrem três adultos fracassados, sem dinheiro e envolvidos em relacionamentos pouco satisfatórios. Eles são confrontados aos problemas do mundo digital: sex tapes que caem na Internet, avaliações baixas no aplicativo de transporte privado, paixão platônica pela atendente de telemarketing.
Embora seja raro que grandes festivais premiem comédias populares, talvez Berlim recompense a qualidade deste texto corrosivo, assim como de sua excelente trinca de atores, compostos por Corinne Masiero (em destaque nesta notícia, mostrando os seios aos fotógrafos em Berlim), Blanche Gardin e Denis Podalydès. As imagens carregadas de sarcasmo levaram os críticos às gargalhadas durante a sessão de imprensa. Leia a nossa crítica.
Na Mostra Panorama, o brasileiro Karim Aïnouz (de A Vida Invisível, 2019), apresentou seu novo projeto, o documentário Nardjes A. (2020), no qual viaja à Argélia, terra de seus avós. No local, descobre uma revolução comandada pelos jovens, que repudiam a quinta candidatura seguida do presidente e reivindicam liberdade nas ruas da cidade.
Munido de um telefone celular, o diretor efetua imagens urgentes, captando o fervor dos movimentos populares através da figura central de Nardjès, adolescente militante de uma família marcada pelo posicionamento progressista. O resultado é uma bela obra de engajamento e empatia, embora não se aprofunde nas especificidades políticas daquele movimento. Leia a nossa crítica.
Em 25 de fevereiro, três novos filmes da mostra competitiva serão apresentados aos jornalistas: o sul-coreano The Woman Who Ran (2020), o italiano-suíço Favolacce (2020) e o norte-americano-britânico Never Rarely Sometimes Always (2020).
:: Confira nosso especial com a cobertura completa da Berlinale 2020 ::