O cinema brasileiro está muito bem representado no Festival de Cannes 2021 por algumas das vozes mais politicamente ativas da cultura contemporânea. Um coletivo de artistas brasileiros ostentou uma faixa com os dizeres “Brasil: 530 mil mortes. Fora gângster genocida”, em menção à fala de Spike Lee, junto aos gritos de “Fora Bolsonaro”. Eles foram aplaudidos de pé pela imprensa internacional.
Nesta sessão, o diretor cearense Karim Aïnouz apresentou o documentário Marinheiro das Montanhas (2021) após fazer discurso potente: “Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos. Parece que falar do Brasil hoje é falar de um ente querido que está entre a vida e a morte. O mundo precisa agir urgentemente para frear este governo cuja maior especialidade é destruir e matar deliberadamente”.
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Ele continuou: “Além das mais de 500 mil mortes com a Covid, muitas outras vidas foram perdidas por responsabilidade direta desta necropolítica. Como acontece em governos autoritários, os artistas, a ciência e as universidades públicas foram os primeiros a ser atingidos. A produção cultural em todo o país está quase totalmente paralisada, em um ato calculado de destruição imposto pelo governo federal. Hoje, o cinema brasileiro e toda a sua imensa cadeia produtiva enfrentam o desafio de sobreviver neste cenário”.
Marinheiro das Montanhas apresenta uma visita do diretor às suas raízes argelinas. Através de uma viagem contemporânea, de arquivos familiares e de imagens oficiais da história do país, efetua uma aproximação entre o romance vivido por seus pais e a guerra de independência da Argélia. Aïnouz já teve quatro selecionados ao Festival de Cannes, vencendo a prestigiosa mostra Um Certo Olhar com o drama A Vida Invisível (2019).