Terminadas as sessões com os longas e curtas das mostras competitivas, já é possível tecer algumas previsões a respeito dos prováveis vencedores do 48o Festival de Cinema de Gramado. Após sete dias de intensa programação, a edição deste ano – que está acontecendo de modo remoto, com transmissão pelo Canal Brasil e títulos disponíveis no Canal Brasil Play – o evento terá, nesta sexta-feira, a exibição especial do clássico Bye Bye Brasil (1980), de Cacá Diegues – confira aqui a crítica de Marcelo Müller – e as homenagens a Marco Nanini (Troféu Oscarito), Lais Bodanzky (Troféu Eduardo Abelin), Denise Fraga (Troféu Cidade de Gramado) e César Troncoso (Troféu Kikito de Cristal). A aguardada cerimônia de premiação será realizada no sábado, 26 de setembro, com transmissão ao vivo pelo Canal Brasil. E quem deverá levar o kikito pra casa? Confira as nossas apostas!
MOSTRA DE LONGAS GAÚCHOS
Melhor Filme: Portuñol, de Thais Fernandes
Júri Popular: Portuñol, de Thais Fernandes
Júri da Crítica: Portuñol, de Thais Fernandes
Dos cinco concorrentes, Portuñol recebeu a nota mais alta na crítica do Papo de Cinema (6), enquanto que no Letterboxd alcançou uma média ainda superior (7,07). Os demais concorrentes não parecem ter muitas chances: Deborah! O Ato da Casa (4 / 4) e Ten-Love (4 / 6,07) aparecem depois, com Trapaça (3 / 3,5) e Contos do Amanhã (2 / 3,63) na sequência.
CURTAS BRASILEIROS
Melhor Som: Ana Luisa Mariquito, por Blackout (com Marco Antonio Pereira, por 4 Bilhões de Infinitos, como opção)
Melhor Trilha Sonora: Sinai Sganzerla, por Extratos (com Marcos Valle, por Subsolo, como opção)
Melhor Direção de Arte: Paulo Ito, por Subsolo (com Luca da Cruz, por Inabitável, como opção)
Melhor Montagem: Marco Antonio Pereira, por 4 Bilhões de Infinitos (com Claudio Tamella e Sinai Sganzerla, por Extratos, como opção)
Melhor Fotografia: Erik Clementino, por Remoinho (com Gustavo Pessoa, por Inabitável, como opção)
Melhor Roteiro: Matheus Farias e Enock Carvalho, por Inabitável (com Issis Valenzuela, de Receita de Caranguejo, como opção)
Melhor Ator: Diogo Leite, por Você Tem Olhos Tristes (com Gabriel Nunes Xavier, por Trincheira, como opção)
Melhor Atriz: Luciana Souza, por Inabitável (com Zezita Matos, por Remoinho, como opção)
Melhor Direção: Henrique Amud e Lucas H. Rossi, por Atordoado, Eu Permaneço Atento (com Matheus Farias e Enock Carvalho, por Inabitável, como opção)
Melhor Filme: Inabitável (com Extratos como opção)
Júri Popular: Blackout, de Rossandra Leone
Júri da Crítica: Extratos, de Sinai Sganzerla
A seleção deste ano foi bastante irregular. Alguns (poucos) títulos chamaram atenção, enquanto que a maioria passou em branco. Com 5 documentários, 8 ficções e apenas uma animação, a mostra teve como destaque Inabitável (PE), de Matheus Farias e Enock Carvalho, Atordoado, Eu Permaneço Atento (RJ), de Henrique Amud e Lucas H. Rossi, e Extratos (SP), de Sinai Sganzerla. Os demais documentários soaram simplistas e redundantes, enquanto que a animação sofreu por estar muito aquém dos melhores trabalhos de um dos seus co-diretores, o mestre Otto Guerra. Outros títulos, como Remoinho (PB), 4 Bilhões de Infinitos (MG) e Você Tem Olhos Tristes (SP) despertaram curiosidade por elementos isolados, falhando em movimentar uma atenção pelo conjunto.
LONGAS ESTRANGEIROS
Melhor Fotografia: Iván Molina, por La Frontera (com Nicolas Trovato, por El Silencio del Cazador, como opção)
Melhor Roteiro: Omar Zúñiga, por Los Fuertes (com Hugo Giménez, por Matar a un Muerto, como opção)
Melhor Atriz: Daylin Vega Moreno, por La Frontera (com Mora Recalde, por El Silencio del Cazador, como opção)
Melhor Ator: Antonio Altamirano e Samuel González, por Los Fuertes (com Ever Enciso, por Matar a un Muerto, como opção)
Melhor Direção: Omar Zúñiga, por Los Fuertes (com David David, por La Frontera, como opção)
Melhor Filme: Los Fuertes, do Chile (com Matar a un Muerto, do Paraguai, como opção)
Júri Popular: Los Fuertes, do Chile (com El Silencio del Cazador, da Argentina, como opção)
Júri da Crítica: La Frontera, da Colômbia (com Matar a un Muerto, do Paraguai, como opção)
Na grade crítica do Papo de Cinema, com mais de uma dezena de críticos votantes, o único dos seis filmes concorrentes a ficar com uma média positiva (acima de 6) foi o chileno Los Fuertes (7,2). No Letterboxd, sua média também foi alta (7). Na sequência veio o colombiano La Frontera (5,9 / 6,6), o paraguaio Matar a un Muerto (5,7 / 6,6), o uruguaio El Gran Viaje al País Pequeño (5,3 / 7,2), o mexicano Días de Invierno (4,5 / 5,8) e o argentino El Silencio del Cazador (4,3 / 6,2). Será uma afronta que o prêmio de Melhor Filme não for para o representante do Chile. Entre os atores, não causará espanto se houverem empates (a dupla de Los Fuertes sai na frente, mas as de Matar a un Muerto e de El Silencio del Cazador também podem surpreender). Já no âmbito feminino, a protagonista de La Frontera sai na frente, mas se a tendência por empates se manter por aqui também, é capaz dela ter que dividir seu prêmio com a colega de elenco Sheila Monterola. As duas são as únicas concorrentes na prática. Los Fuertes é um filme tão superior aos demais que o justo seria todos os kikitos irem para ele – com exceção do de Melhor Atriz, uma vez que não possui personagens femininas de destaque. Se esta visão for consenso entre os jurados, talvez se faça justiça diante da fraca seleção que marcou este ano. Caso optem por pulverizar os resultados, La Frontera e Matar a un Muerto podem ver suas chances aumentadas.
LONGAS BRASILEIROS
Melhor Som: Bernardo Uzeda, por Aos Pedaços (com Gabriela Cunha, Rubén Valdes e Christophe Vingtrinier, por Todos os Mortos, como opção)
Melhor Trilha Sonora: Jonas Sá e Ricardo Dias Gomes, por Um Animal Amarelo (com Marcos Souza, por O Samba é Primo do Jazz, como opção)
Melhor Direção de Arte: Juliana Lobo, por Todos os Mortos (com Dina Salem Levy, por Um Animal Amarelo, como opção)
Melhor Montagem: Mariana Meliande, Felipe Bragança e Karen Black, por Um Animal Amarelo (com Juliana Rojas, Caetano Gotardo e Marco Dutra, por Todos os Mortos, como opção)
Melhor Fotografia: Pablo Baião, por Aos Pedaços (com Hélène Louvart, por Todos os Mortos, como opção)
Melhor Roteiro: Caetano Gotardo e Marco Dutra, por Todos os Mortos (com Camilo Cavalcante, por King Kong en Asunción, como opção)
Melhor Ator: Emilio de Mello, por Aos Pedaços (com Andrade Júnior, por King Kong en Asunción, e Higor Campagnaro, por Um Animal Amarelo, como opções)
Melhor Atriz: Mawusi Tulani, por Todos os Mortos (com Isabel Zuáa, por Um Animal Amarelo, e Carolina Monte Rosa, por Por Que Você Não Chora?, como opções)
Melhor Direção: Ruy Guerra, por Aos Pedaços (com Felipe Bragança, por Um Animal Amarelo, e Camilo Cavalcante, por King Kong en Asunción, como opções)
Melhor Filme: Um Animal Amarelo (com Todos os Mortos e King Kong en Asunción como opções)
Júri Popular: Me Chama Que Eu Vou, de Joana Mariani (com O Samba é Primo do Jazz, de Angela Zoé, como opção)
Júri da Crítica: Aos Pedaços, de Ruy Guerra (com Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, como opção)
Na grade crítica aqui do Papo de Cinema, mais de uma dezena de críticos apontaram Um Animal Amarelo como o melhor dessa seleção, ainda que sua média não tenha sido tão impressionante assim (6,4). No Letterboxd, a pontuação também não causa muito impacto (6,4). Seguindo a ordem da GC, na sequência vem Todos os Mortos (5,9 / 5,8), Me Chama Que Eu Vou (5,6 / 6,6), Aos Pedaços (5,2 / 5,6), King Kong en Asunción (4 / 6,6), O Samba é Primo do Jazz (3,9 / 6,2) e Por Que Você Não Chora? (2,3 / 5,4). Com dois documentários e cinco ficções, a disputa parece ter se reduzido a apenas quatro concorrentes, dois por terem alcançado destaque no exterior – Um Animal Amarelo (Festival de Roterdã) e Todos os Mortos (Festival de Berlim) – e dois pela assinatura dos seus realizadores – Aos Pedaços (Ruy Guerra) e King Kong en Asunción (Camilo Cavalcante). Se o júri for corajoso, esses dois últimos serão solenemente ignorados – não fazem jus nem mesmo em relação aos trabalhos anteriores dos seus diretores – mas é pouco provável que consigam desperdiçar a oportunidade de premiar Guerra, por exemplo, que está com quase 90 anos e segue na ativa. Entre as atuações, Mawusi Tulani é a única atriz a entregar um trabalho de respeito como protagonista (Zuáa é coadjuvante, enquanto que Monte Rosa ainda tem muito o que mostrar), enquanto que entre os homens a disputa parece mais equilibrada, tendendo ao experiente Emilio de Mello, que fica um pouco adiante do já falecido Andrade Jr e do novato Higor Campagnaro.
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Entre os longas nacionais, Um Animal Amarelo foi o que mais se destacou positivamente. Achei um filme com temática ambiciosa - e a tentativa de reproduzir uma espécie de Macunaíma contemporâneo foi uma jogada arriscada de Bragança. Mas eu adorei. Apesar de falar sobre a tragédia de um país que não conhece sua identidade, se torna uma jornada engraçada por justamente se permitir rir de si mesmo. A trama empolga por muitos momentos - principalmente no segundo ato, onde Fernando viaja para Moçambique e, depois, Portugal. De resto, menção honrosa para King Kong en Asunción (ótima direção e atuação de Andrade Jr., mas o título não ajuda) e Todos os Mortos (grande argumento, mas montagem confusa). Melhor Filme: Um Animal Amarelo Melhor Diretor: Felipe Bragança, Um Animal Amarelo Melhor Atriz: Mawusi Tulani, Todos os Mortos Melhor Ator: Andrade Jr., King Kong en Asunción Melhor Roteiro: Felipe Bragança, Um Animal Amarelo