Festival de Locarno 2021 :: Cinema brasileiro leva a imagem de um país em crise

Publicado por
Bruno Carmelo

O Festival de Locarno, um dos principais eventos destinados ao cinema independente no mundo, apresenta neste momento sua edição 2021. O Brasil está representado na seleção através de dois curtas-metragens: Fantasma Neon (2021), de Leonardo Martinelli, e A Máquina Infernal (2021), de Francis Vogner dos Reis. Ambos integram a mostra Pardi di Domani.
Em comum, os filmes recorrem à fantasia e ao cinema de gênero para retratar uma sociedade arruinada – o primeiro, por meio do musical, e o segundo, através do terror. O foco dos projetos se encontra na crise do trabalho: enquanto Martinelli chama atenção às condições precárias dos entregadores de comida por aplicativo, Reis revela a desumanização dos operários nas grandes usinas, onde os funcionários trabalham sob forte pressão e risco de acidentes.
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Fantasma Neon, de Leonardo Martinelli

Fantasma Neon é estrelado por Dennis Pinheiro e Silvero Pereira (de Bacurau, 2019), além de diversos bailarinos que vão do clássico ao contemporâneo e o hip hop, sem abrir mão das grandes mochilas quadradas típicas dos entregadores. Deste modo, refletem de maneira poética uma crise ampla, representada pelas baixas garantias e por clientes mal-educados. Apesar do formato curioso, resta a impressão de um projeto mais voltado à constatação do problema do que às reflexões sobre suas origens e consequências. Leia a nossa crítica.
A Máquina Infernal comprova a fértil lista brasileira de filmes contemporâneos que exploram a monstruosidade do cinema de horror para discutir a desigualdade de oportunidades. Através de uma fotografia belíssima e efeitos sonoros instigantes, mostra o processo de zumbificação dos trabalhadores da usina, próximos de serem devorados pelo edifício em ruínas. Dialoga com obras como Trabalhar Cansa (2011), Mormaço (2018) e Pajeú (2020). Leia a nossa crítica.
O Festival de Locarno 2021 vai até o dia 14 de agosto, com cobertura remota do Papo de Cinema.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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