Marcelo Müller, nosso cariucho (mistura “moleque” de carioca com gaúcho), representou o Papo de Cinema numa programação oficial do Festival do Rio 2019. Ele mediou o debate de Breve Miragem de Sol (2019), o mais novo filme do cineasta Eryk Rocha, exibido anteriormente em outros eventos, mas que tomou a icônica tela do Odeon – um dos endereços mais tradicionais da cinefilia fluminense – nesta terça-feira, 17. Estavam presentes na mesa os atores Fabrício Boliveira e Barbara Colen; o diretor Eryk Rocha; a produtora executiva Joelma Gonzaga; o fotógrafo Miguel Vassy; e o montador Renato Valonne. A despeito do horário relativamente ingrato (13h de um dia ensolarado no Rio de Janeiro) e da “competição” com a semifinal do Mundial de Clubes de futebol (sim, o jogo do Flamengo), a sala recebeu um bom público. E as participações pós-sessão deram conta do entusiasmo suscitado pelo filme.
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Eryk Rocha falou bastante sobre a questão política, mencionando nominalmente o presidente Jair Bolsonaro como uma figura nefasta, contextualizando suas falas a partir das circunstâncias centradas em Paulo, o protagonista. Por exemplo, numa das primeiras sequências surgem jovens agressivos e “mauricinhos” aos quais o cineasta se referiu como “os bolsominions”, rótulo bastante utilizado para definir os partidários do presidente da república. Já Barbara Colen e Fabrício Boliveira se ativeram mais à natureza do que definiram como câmera-corpo, uma vez que a decupagem privilegia planos fechados, às vezes fechadíssimos. Joelma, em seu momento de explanação, destrinchou brevemente as dificuldades de produção, especialmente os desafios de seis semanas de noturnas com a recusa do cineasta de fechar ruas e afins, exatamente pelo desejo de capturar uma pulsação genuína do Rio de Janeiro.
Miguel discorreu sobre essa colaboração longeva com Eryk e, mais especificamente, acerca da concepção fotográfica que inspirou desafios, sobretudo quanto à integração dos personagens como uma cidade convulsionada na madrugada. Por fim, na fase de apresentações, Renato pormenorizou seu trabalho de montagem, o processo de observar planos longuíssimos, às vezes de mais de duas horas, e deles extrair algo a ser descoberto exatamente nessa observação. As posteriores participações da plateia sublinharam a tristeza latente (tanto da cidade quanto do protagonista) e a forma bonita com que Eryk Rocha e sua equipe falam de muitas crises a partir do interior de um táxi no qual labuta diariamente um homem atravessado por contradições e pelo desejo de sobrepujar uma crise cujo núcleo é uma disfunção econômica. Confira as imagens do debate (cortesia do nosso amigo Lucas Salgado).
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