Resistir é preciso, ainda mais em tempos de desmonte (e afronte) do poder público em relação à Cultura. No ano em que o Festival do Rio precisou recorrer ao apoio popular através de uma bem sucedida campanha de crowdfunding, na qual foram arrecadados mais de R$ 620 mil, era até mesmo natural que o clima de resistência estivesse instaurado na cerimônia de abertura. A começar pelo figurino da apresentadora Mariana Ximenes, repleto de cartazes de filmes nacionais, os mesmos que foram retirados do prédio da Ancine devido à nova diretriz do governo Bolsonaro.
“No cinema brasileiro, como atriz e espectadora, mergulhei em histórias que nunca imaginei contar e fui para lugares que nunca sequer pensei. O cinema brasileiro me fez rir, chorar, refletir, viver sentimentos que nem sabia que existiam”, disse a atriz, emocionada. “É essa a força que o cinema brasileiro tem e essa força nunca esteve tão forte, em uma tentativa de nos fazer calar, de nos fazer sumir, de nos fazer não contar nossas histórias. E são muitas as histórias que temos para contar! Nunca produzimos tanto, com tanta diversidade de gêneros e nunca ganhamos tanto com a nossa cultura. Mas, ao mesmo tempo, vivemos tempos sombrios, sobre nossa arte, nosso cinema e a nossa liberdade.”
“A arte existe porque a vida não basta, dizia Ferreira Gullar, e anular a arte é anular a vida. Tentar esvaziar o cinema brasileiro e esconder suas produções é deixar de lado o Brasil e o que temos de mais especial, que são as nossas histórias, a nossa diversidade e o nosso jeito de ver e de viver. Que a gente se una, que faça este movimento pelo cinema brasileiro como fizemos aqui hoje, no crowdfunding, para este festival existir e acontecer. Porque a gente vai seguir. A gente vai ocupar. A gente vai resistir.”
“Talvez este seja o momento, já que estamos aqui prestes a entregar o festival à cidade, de olhar para o que aprendemos. Tudo o que veio de novo a partir deste momento que foi difícil, mas foi também de grandes oportunidades e aprendizado“, disse Ilda Santiago, diretora-geral do Festival do Rio. “A gente aprendeu a receber, a ouvir a oferta. A partir do comunicado que fizemos ao público, o que veio foi uma enxurrada de solidariedade, amor e reconhecimento. Este foi um momento de parar e entender não só a importância do festival para o Rio, mas a importância de um evento cultural para uma cidade como o Rio de Janeiro.”
O Festival do Rio 2019 teve início com a exibição de Adoráveis Mulheres (2019), novo longa-metragem dirigido por Greta Gerwig, que recebeu duas indicações ao Globo de Ouro. Confira nossa crítica!
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