Nesta sexta-feira, 20 de agosto, o Festival Goiamum Audiovisual 2021 encerra sua 10ª edição. Ao longo de cinco dias, o canal do evento no YouTube e as plataformas parceiras do Embaúba Play e Spcine Play disponibilizaram 40 filmes online e gratuitos aos espectadores. Apesar do foco na evolução do cinema potiguar, a seleção incluiu títulos do Brasil inteiro, além de obras do Chile e da Bolívia, permitindo estabelecer um diálogo entre diferentes realidades sociais.
Além disso, o festival investiu em oficinas de formação, debates e encontros virtuais para pensar o cinema andino, o cinema enquanto ferramenta política e o desenvolvimento da produção no Rio Grande do Norte. A última mesa de debates do Goiamum, nesta sexta-feira, aproveita para discutir os desafios do cinema no Estado pós-pandemia, com Babi Baracho, Carlos Segundo e Arlindo Bezerra, e mediação de Dênia Cruz. Os convidados, habituados ao trabalho com políticas públicas, apontam caminhos para a produção e exibição. A única mostra competitiva do festival, intitulada Dilemas do Presente, apresenta seus prêmios determinados pelo júri e pela Associação de Críticos Cinematográficos do Rio Grande do Norte.
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Em paralelo, a diretora e curadora do festival, Keila Sena, efetua um balanço das conquistas da décima edição. Abaixo, ela reflete sobre tópicos que vão do caráter educativo e político destas produções às consequências dos debates:
Cinema é educação
“O formato online, que eu tinha medo de enfraquecer o festival, não provocou esse efeito. O Goiamum apenas ocupou outro espaço, o virtual. O festival acertou nas temáticas abordadas. O fato de ter realizado o programa Cinema É Educação aproximou os realizadores potiguares de uma reflexão mais ampla da educação, incluindo o recorte de uma chilena, em um país que traz tantos exemplos para nós. Para uma oficina com 20 pessoas, tivemos 86 inscritos, o que comprova o interesse das pessoas pela proposta que oferecemos. Além disso, não foram apenas potiguares que se inscreveram. A oficina trabalhou o fomento ao cineclubismo junto aos educadores e estudantes, e os inscritos vão desenvolver um projeto coletivo, ou seja, o movimento não para por aí. Este é um dos melhores retornos possíveis. Cumpri a minha missão com o programa Cinema É Educação”.
Cinema é política
“A gente sabe que, nessas atividades online, existem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, em diversos festivais. As pessoas não dão conta de prestigiar todos os eventos – e isso me deixava tensa, a princípio. Tinha medo de ter poucas pessoas conectadas. Mas dentro do programa Cinema É Política, organizamos uma palestra que teve 214 pessoas online! Fiquei emocionada com isso, e com o debate, claro. Ter conseguido reunir Eryk Rocha, Cristina Amaral, Adirley Queirós e Thiago B. Mendonça foi de uma riqueza histórica para o festival. Ainda por cima, firmamos simbolicamente o acordo de que virão para cá no próximo evento presencial. O debate entre eles durou 2h30, e deveria durar uma hora apenas. Foi sensacional. Quem participou saiu instigado, oxigenado, com o desejo de fazer um cinema contestador. Estes cineastas são muito inspiradores, são intelectuais que sabem se comunicar com as pessoas. O público interagiu no Brasil todo, e depois, tivemos um retorno bastante positivo dos diretores – Cristina Amaral me disse que esta iniciativa faz do festival uma rede de apoio a esta forma de cinema. O Brasil tem muitos temas a discutir neste momento, e o festival pode ser um destes espaços de debate. Nós fizemos mais do que apenas celebrar os 10 anos do Goiamum. O festival teve um papel social, e contribuiu com o que estamos vivendo hoje”.
Atividades locais
“Nunca antes houve uma conversa discutindo os avanços do audiovisual potiguar numa linha do tempo, com pontos de vista diferentes, incluindo educadores, pessoas que trabalham com Cinemateca e memória. O debate se tornou uma aula. A missão é fomentar o audiovisual potiguar pelas formas possíveis dentro do festival. A homenagem ao diretor Geraldo Cavalcanti também durou 2h30, e estava programada para durar uma hora. Pudemos oferecer um documento de memória aos jovens realizadores aqui do Estado, que não puderam descobrir o trabalho do Geraldo. Ontem soube que uma sala de aula na Escola de Cuba será homenageada com o nome dele. No final, o festival foi prestigiado por muitas pessoas, e agradeço à Embaúba Play, que deu belo destaque à nossa programação no site. Nossas mostras tiveram uma qualidade muito boa, traçando um panorama do cinema potiguar em diálogo com o debate que tivemos”.
Curadoria e direção
“Os filmes latino-americanos também eram muito fortes. Eu até tentei fazer uma mostra pequena, com apenas 10 filmes, mas conforme conversava com os curadores, percebi a vontade de fazer várias mostras. Além disso, não dava para falar do cinema potiguar com apenas uma mostra. Eu faço um festival criado inicialmente por pelo menos 10 pessoas, que aos poucos saíram do projeto. Agora estou sozinha, sendo uma mulher diretora de um festival de cinema. Existe uma força de ser uma mãe solo, pretendendo manter o festival assim. Acredito muito nos propósitos que nos estabelecemos há 14 anos: a transformação da cidade por meio da cultura e do cinema. Não consigo não me emocionar. Estou cansada, mas feliz, satisfeita e resolvida com o ambiente virtual. Obviamente, queria ver as pessoas, queria o espaço do boteco, das trocas presenciais. Mas isso a gente ainda resolve. O mais importante é o conteúdo, o que foi compartilhado, e o que as pessoas receberam. Vou seguir a minha luta e minha resistência. O Festival Goiamum é importante para o Rio Grande do Norte, e sempre ultrapassou as nossas fronteiras. Até fui recebida pela governadora do Estado, que é educadora, professora, e a única mulher governadora do Brasil. Pude mostrar que estamos contribuindo com a sociedade por meio do cinema”.
Afetos em tempos virtuais
“Num bate-papo, a realizadora Mary Land estava no chat, e dentro desta conversa, acabou encontrando outro artista que tinha conhecido antes num festival de cinema internacional. Eles ficaram conversando pelo chat: “Você por aqui!”. Quem diria! Achei isso muito simbólico. Dentro do ambiente virtual, conseguimos estabelecer laços. O Thiago B. Mendonça, um ativista, já se dispôs a contribuir com o projeto do fomento aos cineclubes. Já combinei com o Adirley Queirós de encontrá-lo em Brasília ainda este ano. Percebi que os encontros são possíveis, e o afeto existe mesmo no mundo digital. Quando existem as afinidades pelo fazer coletivo, pela potência de beneficiar os outros e refletir para mudar realidades, a gente pode estar perto ou longe, tanto faz – estes laços se estabelecem”.
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