20200716 dois dias uma noite papo de cinema

Dia de estreias na Filme Filme. E nesta quinta-feira, como de costume, tem filmes para todos os gostos. Dois brasileiros e um belgo-francês. Para começo de conversa, um elogiadíssimo longa dos cineastas belgas que são verdadeiros bichos-papões no Festival de Cannes. Estrelado por Marion Cotillard, este drama que chega à seção Festivais aborda um dilema pessoal instaurado por uma crise empregatícia na Europa. Já na parte dos Documentários, temos uma estreia mundial. A cineasta Maria Augusta Ramos faz um filme sobre a movimentação de trabalhadores descontentes com seu antigo empregador, a partir disso deflagrando uma série de elementos que constituem o Brasil. Os curadores da Filme Filme estão afiadíssimos, inclusive deixando no ar a sugestão de uma sessão dupla, hein? Para terminar, somado ao já ótimo acervo dos Populares, o drama estrelado por Armando Babaioff que mostra um homem estigmatizado por algo feito num passado recente, seduzido por forças nefastas que lhe oferecem a mão com segundas intenções. Confira detalhes das estreias desta semana da Filme Filme.

 

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Dois Dias, Uma Noite, de  Jean-Pierre e Luc Dardenne
– Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Marion Cotillard);
– Indicado ao Bafta de Melhor Filme Estrangeiro;
– Indicado ao Critics Choice Award de Melhor Atriz (Marion Cotillard) e Filme Estrangeiro;
– Premiado como Melhor Atriz (Marion Cotillard) no European Film Awards;

É quase todo calcado no rosto e no corpo de Sandra. É através dessa personagem cada vez mais acabrunhada por, nas palavras dela, “mendigar” a manutenção do emprego e, por conseguinte, negociar a própria dignidade – esta necessidade emocional aparentemente negada aos desempregados, então párias dentro da lógica cruel que rege a maioria das sociedades – que temos deflagrada a engrenagem motriz do filme. Mesmo sem a aridez violenta presente em Rosetta (1999) ou em A Criança (2005), talvez, assim, mais alinhado dentro da filmografia dos Dardenne com O Garoto da Bicicleta (2011), outro filme no qual os belgas parecem dar mais espaço à esperança,  é uma realização dolorosa, justo por que nela acompanhamos a luta muitas vezes inglória de alguém que busca apenas subsistir, tanto no espectro pessoal quanto no social”. Confira aqui a nossa crítica completa.

 

Não Toque em Meu Companheiro, de Maria Augusta Ramos
Lançado diretamente em streaming.

Cumpre a tarefa de invocar a resistência dos movimentos trabalhistas ao longo do tempo. Nenhum grevista de 1991 demonstra afinidade com a ideologia direitista atual – pelo menos, não aqueles que aceitaram testemunhar para as câmeras. O filme sugere que as falhas estruturais do passado se repetem no presente, e que estamos caindo no conto do vigário que já se provou falacioso no passado. A comunicação do Brasil em crise com o Brasil sonhado já constituía um ponto positivo de O Processo (2018), repetindo-se neste projeto de dimensões e ambições mais modestas. Entretanto, no que diz respeito à representação da greve de 1991 na Caixa, com suas circunstâncias e consequências específicas, o resultado se torna vago devido ao roteiro amplo, que navega entre blocos distintos sem se aprofundar neles”. Confira aqui a nossa crítica completa.

 

Homem Livre, de Alvaro Furloni
6º Olhar de Cinema: Seleção Oficial

“Durante um bom tempo não sabemos realmente quem é Hélio Lotte (Armando Babaioff), cujo nome as pessoas fazem questão de mencionar completo, do que intuímos ele ser conhecido. Levado escondido num porta-malas a um templo evangélico, furtivamente durante a madrugada, ele recebe as atenções do pastor Gileno (Flavio Bauraqui), que faz questão de certificar-se de seu conforto. Muito habilmente, o diretor Alvaro Furloni alimenta nossa curiosidade, oferecendo-nos informações a conta gotas, instigando a vontade de realmente descobrir mais acerca dessa situação, então, envolta numa bruma. Homem Livre apresenta uma ambientação condizente com os mistérios que a alimentam. Os cenários são predominantemente escuros, iluminados pontualmente para evidenciar a possibilidade de algo surgir das sombras. Confira aqui a nossa crítica completa.
EXCLUSIVO :: Entrevista com Armando Babaioff

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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