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A grande atriz norte-americana Gena Rowlands morreu nesta quarta-feira, 14, em Indian Wells, Califórnia, Estados Unidos, aos 94 anos de idade. De acordo com a família, ela estava cercada de amigos e parentes na casa onde residia há algum tempo, a mesma na qual lutava contra os avanços do Alzheimer desde 2019. Ainda que sua obra de incalculável valor para o cinema e o teatro norte-americanos permaneça viva e pujante, sempre nos lembrando da sua excelência como intérprete e autora, a morte física decreta uma perda inestimável para o cenário cultural estadunidense. Vai-se aquela que ajudou a reformatar o cinema dos Estados Unidos quando este dava claros sinais de declínio depois de décadas de hegemonia, aquela que dizia ser fascinante atuar porque assim não era preciso viver apenas uma vida, mas várias.

Gena nasceu numa família comandada pela mãe dona de casa que mais tarde se tornou atriz e por um pai banqueiro que também foi legislador estadual, membro do Partido Progressista de Wisconsin e descendente de galeses. Por conta da nomeação do pai a um cargo no Departamento Federal de Agricultura, todos se mudaram para a capital Washington em 1939, quando Gena completaria nove anos de idade.

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O COMEÇO NO MUNDO DAS ARTES

Gena Rowlands abandonou a Universidade de Winsconsin em 1950, então com 20 anos de idade, com o intuito de estudar teatro na Academia Americana de Artes Dramáticas em Nova Iorque. Lá, conheceu aquele que seria o grande parceiro de sua carreira e também da vida íntima, o ator e cineasta John Cassavetes (os dois ficaram casados de 1954 até 1989, ano em que ele morreu precocemente). Ainda no começo dos anos 1950, ela se apresentou  com companhias de teatro de repertório e no Provincetown Playhouse, teatro nova-iorquino histórico. Sua estreia na Broadway se deu com a versão para os palcos de O Pecado Mora ao Lado, peça de três atos escrita por George Axelrod que mais tarde seria levada ao cinema por Billy Wilder e estrelada por Marilyn Monroe. Dando prosseguimento à ascensão de sua carreira, Rowlands coestrelou com Paul Stewart a série de TV de 26 episódios Top Secret (1954–55). Suas aparições em seriados televisivos foram constantes nos anos 1950/60, inclusive contracenando com o marido na série policial Johnny Staccato (1959-1960).

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Ao lado de Cassavetes em “Johnny Staccato”

GENA E O CINEMA

A estreia de Gena Rowlands nas telonas aconteceu em Amor Também Subiu de Preço (1958), no qual interpretou uma mulher que anuncia a primeira gravidez ao marido prestes a ser demitido. Em 1962, estrelou em Sua Última Façanha, faroeste de David Miller com Kirk Douglas e Walter Matthau, no mesmo ano contracenando com Rock Hudson em Labirinto de Paixões. Um ano depois, integrou o elenco de Minha Esperança é Você (1963) com Judy GarlandBurt Lancaster. No entanto, é preciso retroceder um pouco nessa cronologia para ressaltar sua participação não creditada no primeiro longa-metragem dirigido por seu marido, o atualmente considerado vanguardista Sombras (1958). Começava ali uma das parcerias mais importantes da história do cinema norte-americano. Dirigida por John Cassavetes, ela fez os inesquecíveis Faces (1968), Uma Mulher Sob Influência (1974), Noite de Estreia (1977), Glória (1980) e Amantes (1984). Seria no mínimo impreciso e até um tanto sexista reduzir Rowlands ao status de grande musa de Cassavetes, pois sua participação nas produções dirigidas pelo marido foram tão determinantes que podemos a considerar co-autora desses filmes seminais. A Gena o que é de Gena. Ainda nos anos 1980, a atriz teve outro papel de destaque nas telonas em A Outra (1988), de Woody Allen, cineasta que disse certa vez que ela era “incapaz de um momento irreal”. 

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PRÊMIOS E RECONHECIMENTOS

Gena Rowlands foi duas vezes indicada ao Oscar: em 1975 por Uma Mulher Sob Influência e em 1981 por Glória. Em 2016, ela foi agraciada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com um merecidíssimo prêmio honorário pelo conjunto de sua brilhante carreira. Gena venceu ainda o Urso de Prata de Melhor Atriz por Noite de Estreia. Foi oito vezes indicada ao Globo de Ouro e venceu em duas oportunidades: em 1975 como Melhor Atriz de Filme Dramático por Uma Mulher Sob Influência e em 1988 como Melhor Atriz de Minissérie em 1987 por A História de Betty Ford (1986), na qual interpretou a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Betty Ford. Além dos reconhecimentos cinematográficos, Gena Rowlands foi oito vezes indicada ao Emmy Awards (O Oscar da TV estadunidense), vencendo em três oportunidades: como Melhor Atriz de Minissérie em 1987 por A História de Betty Ford, em 1992 por Face a Face com a Vida (1981) e como Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie em 2003 por Hysterical Blindness (2002).

CARREIRA NOS ANOS 2000 

Nos anos 2000, o papel mais popular de Gena Rowlands foi em Diário de uma Paixão (2004), longa dirigido por um de seus filhos, Nick Cassavetes. Em 2007, ela foi coadjuvante de Parker Posey e Melvil Poupaud em Uma Americana em Paris, longa-metragem escrito e dirigido por sua filha Zoe Cassavetes. Além disso, apareceu nas sétimas temporadas de Monk (2002-2009) e NCIS (2003-). Seu último crédito foi no curta-metragem Unfortunate Circumstances (2017). Em 2019, a família anunciou que Gena Rowlands iniciava uma batalha contra o Alzheimer. Ela era mãe do ator e cineasta Nick Cassavetes, da diretora Zoe Cassavetes e da atriz Alexandra Cassavetes.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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