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Gente do Xingu :: Série do Coletivo Kuikuro inicia filmagens com equipe 70% indígena

Publicado por
Marcelo Müller

Gente do Xingu é uma série documental que começou a ser filmada recentemente no Território Indígena do Xingu com direção geral de Takumã Kuikuro. Membro do povo Kuikuro, que cresceu na aldeia Ipatse, localizada no Alto Xingu, Takumã é mais conhecido por ser um dos co-diretores de As Hiper Mulheres (2012), longa-metragem exibido nos festivais de Brasília, Gramado e Roterdã em 2012. Com influência da vertente documental do Cinema Direto, a ideia do diretor é acompanhar o cotidiano de diversos personagens que vivem no Território Indígena do Xingu, uma área com cerca de 2,8 milhões de hectares unindo Cerrado e Amazônia.

“Realizamos essa produção através da Lei Paulo Gustavo, importante política pública que descentralizou os recursos da cultura, apoiando produções de grupos minoritários, como pessoas indígenas que são protagonistas nesta série. Isso é um ganho enorme para toda a sociedade porque amplia a visão sobre o que é o povo brasileiro e a força das nossas culturas. Esse trabalho é um fruto de um alinhamento importante entre arte e política”, comenta Nadja Dulci, produtora da série.

Gente do Xingu

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GENTE DO XINGU: EQUIPE INDÍGENA

Gente do Xingu conta com uma equipe 70% indígena, de acordo com seus produtores. “Nosso objetivo é mostrar que o indígena também tem profissão, que sabemos contar nossas histórias e que queremos viver em paz com a floresta e os não indígenas. Estamos assumindo o protagonismo”, diz o diretor Takumã Kuikuro. A ideia do programa, que ainda não tem previsão de estreia, é registrar coisas como os desafios cotidianos, o manejo sustentável da terra e a proteção da biodiversidade, além dos costumes e tradições indígenas.

GENTE DO XINGU: PARTE DE UMA TENDÊNCIA?

Especialmente nos últimos anos tem crescido consideravelmente a produção do chamado cinema indígena. Mas, antes de qualquer coisa, é preciso fazer uma diferenciação entre filmes dirigidos por indígenas e outros que tem os povos originários somente como protagonistas. Seguindo a trilha do cineasta Vincent Carelli, de Corumbiara (2009), Martírio (2016) e Yaõkwa: Imagem e Memória (2020), figura central do Vídeo nas Aldeias, projeto que levou o audiovisual para inúmeras aldeias Brasil afora, Luiz Bolognesi dirigiu nos últimos anos dois filmes exibidos em festivais internacionais de prestígio que chamaram bastante atenção: Ex-Pajé (2018) e Última Floresta (2021).

Outros cineastas brancos que se destacaram recentemente com produções ambientadas em universos indígenas foram a brasileira Renée Nader Messora e o português João Salaviza, responsáveis por Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) e A Flor do Buriti (2023). Além disso, você sabia que um documentário brasileiro sobre uma personalidade indígena já concorreu ao Oscar? Raoni (1978), sobre um dos caciques mais conhecidos do Brasil, disputou a estatueta de Melhor Documentário no Oscar 1979.

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Por falar em êxitos, as produções indígenas também têm feito bonito nos festivais nacionais. Para se ter uma ideia, nas duas últimas edições do Festival de Brasília (um dos mais tradicionais do país), tivemos filmes indígenas garantindo prêmios. Em 2023, A Transformação de Canuto, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, levou para casa os Candangos de Melhor Direção, Fotografia e Roteiro de Temática Afirmativa. Em 2024, Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna venceram o Candango de Melhor Direção por Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá.

Ex-Pajé

MAS, O QUE É AUDIOVISUAL INDÍGENA?

Iniciativas como Gente do Xingu são imprescindíveis à evolução do que conhecemos comumente como audiovisual indígena. Passada a fase formada, basicamente, por cineastas não indígenas se transformando em aliados importantes à visibilidade dos povos historicamente destituídos de suas subjetividades, é preciso pensar em termos de representação própria. Trocando em miúdos: é fundamental que haja produções criativamente controladas por indígenas para que suas perspectivas de mundo traduzidas em filmes e série também existam.

Por exemplo, diante de uma cerimônia religiosa indígena, um cineasta branco poderá ter uma visão empática, poética e agregadora. No entanto, talvez um indígena prefira registrar o acontecimento não com assombro, até porque sua concepção de natural e sobrenatural tende a ser diferente da nossa. E esse é apenas um pequeno exemplo de o porquê a luta precisa ser para ampliar e consolidar esse audiovisual indígena como um meio de expressão dos povos originários. E você, a quais filmes roteirizados e/ou dirigidos por indígenas você assistiu?

Gente do Xingu

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.