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A Veja São Paulo noticiou, no último dia 20, a decisão do governo federal de transferir a Cinemateca Brasileira de São Paulo para Brasília. O presidente Jair Bolsonaro autorizou o Secretário do Audiovisual, Mário Frias, e o Ministro Marcelo Álvaro Antônio a providenciarem a transferência da instituição para Brasília. A única condição imposta seria que o processo não produzisse custos adicionais.

De acordo com a fonte, já existem empresários em Brasília dispostos a investir na nova Cinemateca. Izalci Lucas, senador do PSDB encarregado da transferência, explicou de modo no mínimo tragicômico a importância do órgão, transparecendo as prioridades do governo:

“É um patrimônio nosso, né. Estou tentando identificar um local para poder disponibilizar ao Ministério do Turismo. Vamos encontrar uma forma de buscar patrocinadores para não pesar para o Estado. Temos o CCBB do Banco do Brasil, por exemplo, e outras opções de lugares dentro do patrimônio público da União”, afirmou.

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Cinemateca Brasileira

 

O desmonte da Cinemateca possui profundo impacto simbólico e político. Primeiro, desfaz uma ação desenvolvida a duras penas desde 1940, por conhecedores do audiovisual e experientes gestores do patrimônio público, deixando dezenas de trabalhadores desempregados. Segundo, demonstra o desprezo pelo acervo e pelo incentivo à produção cultural: não se demonstra qualquer intenção em preservar ou melhorar o trabalho da Cinemateca, apenas desfazer um ponto de conflito que tem se posicionado de modo claro contra as políticas de desmonte cultural de Bolsonaro.

Terceiro, o gesto de levar a instituição para perto do governo, onde sequer existe um ministério para abarcar a cultura, se traduz como ação de controle e vigilância. O presidente e seus ministros demonstraram inúmeras vezes a vontade de censurar produções audiovisuais que não agradassem à pauta conservadora, enquanto estimulariam filmes alinhados aos ideais da extrema-direita.

A decisão representa mais um duro golpe numa instituição responsável pela manutenção, restauração, preservação e organização do audiovisual brasileiro, onde também se organizam festivais de cinema, mostras, debates e exibições. A transferência representa um novo ataque à livre expressão da cultura brasileira.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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