A gente já conhece o estilo Jair Bolsonaro de frequentemente voltar atrás de decisões potencialmente controversas, algo que muitos entendem como uma forma de “medir a temperatura” da opinião pública a respeito de determinadas atitudes potencialmente impopulares. E isso voltou a acontecer, mas agora com um processo iniciado em fevereiro deste ano. O presidente havia indicado a produtora Verônica Brender para a diretora da Ancine, a Agência Nacional do Cinema. A confirmação dela no cargo dependia do resultado de uma sabatina no Senado. O palácio do planalto, no entanto, solicitou o cancelamento da tramitação desse processo interno, assim declinando da indicação. O que isso significa na prática? Além do fato de que Verônica não ocupará o cargo na Ancine, por enquanto não sabemos.
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A indicação de Verônica Brender causou polêmica no meio audiovisual justamente por conta da atuação dela como diretora do Festival Internacional de Cinema Cristão (FICC). O receio da classe é o de que a agência encarregada de regular a produção audiovisual nacional fosse orientada ferrenhamente ideologicamente por uma doutrina religiosa, o que poderia significar uma série de coisas, a começar pela restrição à diversidade de abordagens. Ao ser indicada, em fevereiro, Verônica chegou a postar numa rede social: “vou lutar com todas as forças pelos valores da família brasileira”, assumindo um discurso muitas vezes utilizado para encobrir sanções a produções que não sejam focadas na ideia obsoleta e absolutamente restritiva de família (pai, mãe e filhos geralmente brancos). Porém, dificilmente essa retirada do nome dela significa uma abertura maior do governo Bolsonaro à variedade das produções a receberem incentivo estatal. Ele já demonstrou inúmeras vezes seu desconhecimento técnico relativo à área, algo inversamente proporcional à sua ingerência no setor. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
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