Nos últimos dias, os servidores da Agência Nacional do Cinema (Ancine) foram surpreendidos pela proibição de exibir dentro a instituição o drama A Vida Invisível (2019), que representa o Brasil na corrida ao Oscar 2020. A sessão tinha como objetivo fomentar o debate e preparar os funcionários para a análise de obras nacionais. O veto teria partido do gabinete da secretária do audiovisual Katiane Gouvêa, de acordo com O Globo, ainda que a assessoria de comunicação tenha se recusado a se pronunciar sobre a decisão.
O caso de censura vem poucos dias depois de cartazes de filmes brasileiros serem retirados das paredes da Ancine e do site da instituição. Revoltado com o ocorrido, o diretor Karim Aïnouz, atualmente em campanha pela divulgação de A Vida Invisível nos Estados Unidos, divulgou uma carta inequívoca em suas redes sociais, condenando a gestão cultural do governo:
“Foi com muito PESAR e INDIGNAÇÃO que recebi ontem a notícia de que A Vida Invisível, escolha nacional para o Oscar 2020 e o qual assino a direção, foi impedido de ser projetado em um evento de capacitação para servidores da ANCINE. Digo PESAR, pois é triste testemunhar os desdobramentos de uma política TÓXICA e COVARDE, perpetrada por um governo CATASTRÓFICO, que põe DELIBERADAMENTE em xeque a CULTURA de um país tão abundante quanto o nosso. Digo INDIGNAÇÃO, porque as ameaças serão APENAS ameaças e porque acredito, faço e continuarei fazendo de tudo para que a cultura circule à revelia dos que se apequenam e temem seu poder emancipador. Infelizmente já vi esse filme antes.
Não há meias-palavras para a CENSURA – velada ou não – e para o ANIQUILAMENTO da cultura. Não há meias-palavras para um governo do ÓDIO, do BOICOTE, do DESMONTE e da MORTE. Não há meias-palavras para uma política COVARDE que tenta se escorar na própria INCAPACIDADE e IGNORÂNCIA. Não há meias-palavras para a DESINFORMAÇÃO DELIBERADA e a MENTIRA como tática de um governo IRRESPONSÁVEL que se agarra nas beiras de tudo que é FALSO.
A Vida Invisível faz parte de uma safra filmes que estão servindo como prova inconteste de que o fomento à cultura tem frutos grandiosos. Os filmes nacionais lançados na última década têm tido uma belíssima trajetória nos festivais internacionais e nas bilheterias. Eles têm representado a diversidade do Brasil de maneira poderosa e positiva.
A ameaça à vida do setor é CRIMINOSA, não só nos termos da importância da indústria pujante que é o cinema nacional hoje, gerando milhares de empregos, mas também e, principalmente, se entendermos a importância crucial que a cultura exerce na sociedade. A cultura é o que nos possibilita acreditar na dignidade coletiva. Ela desarma o horror”.
Em resposta à proibição, os artistas decidiram exibir o filme no dia 12 de dezembro na Cinelândia (RJ), gratuitamente, seguido de debate com o ator Gregório Duvivier e com o produtor Rodrigo Teixeira. Estrelado por Carol Duarte, Júlia Stockler e Fernanda Montenegro, A Vida Invisível segue em cartaz nos cinemas, trazendo a história de duas irmãs separadas na juventude, buscando se reencontrar décadas mais tarde.
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