Apesar da movimentação nos bastidores, não será desta vez que a Cinemateca Brasileira cairá sob o controle da presidência. Nas últimas semanas, o Secretário de Cultura, Mário Frias, e o Ministro Marcelo Álvares Antônio anunciaram a decisão, aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro, de retirar a instituição de São Paulo e levá-la a Brasília, onde passariam a controlar as atividades e o acervo.
A Cinemateca Brasileira vem sofrendo com o sucateamento há anos. A quantia de R$ 14 milhões, pré-aprovada pelo governo, nunca foi repassada ao órgão. Isso resultou na precarização das atividades, a demissão de funcionários ou calote no pagamento de salários, e mesmo o corte de energia, que poderia levar à deterioração e perda das películas inflamáveis. Associações como a S.O.S. Cinemateca acusam o governo de desmonte da cultura, enquanto recolhem centenas de assinaturas das maiores instituições internacionais (como o Festival de Cannes e a Cinemateca Francesa) em defesa do patrimônio cinematográfico brasileiro.
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Ao invés de investirem fundos na instituição, conforme previsto em contrato, Frias e Álvares Antônio começaram a buscar locais para abrigar o órgão em Brasília. A dupla inclusive cogitou o CCBB como nova sede. No entanto, há problemas legais evidentes nesta transação: a Fundação Roquette Pinto é a gestora legal do projeto pelo menos até março de 2021, cabendo a ela coordenar as verbas que seriam alocadas pelo governo.
A Acerp recebeu a sugestão de romper “amigavelmente” o contrato, arcar com a demissão de 150 funcionários e passar a direção a Brasília, algo que foi prontamente negado. A escritura da Cinemateca prevê que a instituição seja paulistana, e que não possa ser aparelhada por qualquer governo, de modo a preservá-la de flutuações políticas ao longo dos anos. A instituição mantém uma história de resistência pelo audiovisual desde a sua fundação, em 1940.