A comédia dramática Green Book: O Guia, de Peter Farrelly, foi o grande vencedor do Globo de Ouro 2019, vencendo em três das cinco categorias a que concorria: Melhor Filme Comédia ou Musical, Roteiro e Ator Coadjuvante, para Mahershala Ali. Premiado também como melhor filme do ano no National Board of Review, com mais estas vitórias o longa dispara na corrida pelo Oscar 2018, e já é um dos favoritos a diversas estatuetas, tanto como Melhor Filme como em Roteiro Original, por exemplo. Já a conquista de Mahershala Ali deve ser vista sob outro prisma. Vencedor do Oscar por Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), Ali perdeu o Globo de Ouro naquele ano para Aaron Taylor-Johnson, de Animais Noturnos (2016) – que, aliás, nem chegou a ser indicado ao prêmio da Academia. Então, se por um lado a premiação dessa vez tem mais cara de ‘pedido de desculpas’, servindo como uma compensação pelo deslize cometido dois anos atrás, também coloca em evidência que nem sempre a sintonia entre Globo de Ouro e Oscar é muito precisa. A disputa para Ator Coadjuvante, portanto, segue em aberto.
Green Book: O Guia foi a produção mais premiada desta edição, entre concorrentes de cinema e de televisão. O título com o maior número de indicações – Vice, que disputava seis categorias – ganhou apenas em uma delas: a de Melhor Ator em Comédia ou Musical, para Christian Bale, que superou o favoritismo de Viggo Mortensen (Green Book: O Guia). Mas surpresa mesmo foi a vitória de Bohemian Rhapsody como Melhor Filme em Drama. Além de estar concorrendo na categoria errada – faria mais sentido vê-lo entre os indicados a Melhor Musical – este era um dos títulos indicados na categoria principal que, curiosamente, não disputava a de Direção. O imbróglio fica ainda maior quando se descobre que Bryan Singer, que assina o projeto, foi demitido antes do final das filmagens, sendo que elas foram concluídas – e o longa finalizado – por Dexter Fletcher, que acabou nem sendo creditado por causa de regras sindicais. Pouco provável que um resultado tão estranho quanto esse – os favoritos, aliás, eram Nasce uma Estrela (que ganhou apenas como Canção Original) e Infiltrado na Klan (que ficou a ver navios) – se repita no Oscar.
Bohemian Rhapsody, aliás, teve 100% de faturamento, pois ganhou também como Melhor Ator em Drama. Rami Malek derrotou concorrentes como Bradley Cooper (Nasce uma Estrela) e Willem Dafoe (vencedor do Festival de Veneza por No Portal da Eternidade, em que interpreta o pintor Vincent Van Gogh). Cooper (que concorria a Ator e em Direção) e Amy Adams (também com duas indicações, como Atriz Coadjuvante, por Vice, e como Atriz em Minissérie, por Sharp Objects) foram os grandes derrotados, enquanto que Alfonso Cuarón (premiado como Direção, concorria ainda a Roteiro, por Roma) e Regina King (premiada como Atriz Coadjuvante, por Se a Rua Beale Falasse, disputava ainda como Atriz em Minissérie, por Seven Seconds) também tinham duas indicações cada, mas foram premiados em ao menos uma delas.
Enquanto que Homem-Aranha no Aranhaverso (Melhor Animação), Olivia Colman (Atriz em Comédia, por A Favorita) e Roma (Melhor Filme Estrangeiro) confirmaram seus favoritismos, as vitórias de Glenn Close (A Esposa) como Atriz em Drama, superando Lady Gaga (Nasce uma Estrela), e de O Primeiro Homem (Trilha Sonora), batendo o musical O Retorno de Mary Poppins e o campeão de bilheterias Pantera Negra (ambos saindo da festa de mãos abanando) foram outros resultados inesperados. Close, aliás, parecia a mais chocada ao ouvir seu nome anunciado, e ao subir no palco fez o discurso mais bonito da noite, lembrando da família, de sua longa carreira (esta era sua sexta indicação nas categorias de cinema, e foi a primeira vitória), e das demais concorrentes. Emocionada, foi aplaudida de pé por todos os colegas em duas ocasiões, um retorno que a coloca na dianteira da disputa pelo Oscar.
Entre as categorias de televisão, The Americans levou como Melhor Série em Drama pela sua última temporada, e esta foi também sua única vitória. O Método Kominsky (Série Comédia e Ator em Série Comédia, para Michael Douglas) e American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace (Minissérie ou Telefilme e Ator em Minissérie ou Telefilme, para Darren Criss) foram os únicos programas a ganhar dois prêmios. Segurança em Jogo (Ator em Série Drama, para Richard Madden) e Sharp Objects (Patricia Clarkson, como Atriz Coadjuvante em Televisão) confirmaram seus favoritismos, enquanto que Killing Eve (Sandra Oh, como Atriz em Série Drama, superou Julia Roberts, por Homecoming), A Very English Scandal (Ben Whishaw, como Ator Coadjuvante em Televisão, derrotou Alan Arkin, de O Método Kominsky, e Henry Winkler, de Barry), e Escape at Dannemora (Patricia Arquette, como Atriz em Minissérie ou Telefilme, superou Amy Adams e Laura Dern, essa por O Conto), foram boas surpresas.
O caso mais incomum, no entanto, foi Rachel Brosnahan sendo reconhecida pelo segundo ano consecutivo como Melhor Atriz em Série Comédia ou Musical, por Maravilhosa Sra. Maisel. Por um lado, é estranho, pois os votantes do Globo de Ouro detestam repetir premiados. Por outro, no entanto, fez-se a lógica, uma vez que nenhuma das suas concorrentes era uma verdadeira ameaça, estando entre as finalistas apenas por serem veteranas (Candice Bergen, Debra Messing) ou com fortes bases de fãs (Kristen Bell, Alison Brie). E como nos saímos em nossas apostas? Tivemos 9 acertos (quatro em cinema – Atriz em Drama, Atriz Coadjuvante, Filme Estrangeiro e Canção Original – e cinco em televisão – Ator em Série Drama, Ator em Série Comédia, Minissérie ou Telefilme, Atriz Coadjuvante e Ator em Minissérie ou Telefilme). No entanto, em apenas uma das vinte e cinco categorias qualificamos o atual vencedor como “sem chances” de vitória: justamente Bohemian Rhapsody como Melhor Filme em Drama, o resultado mais espantoso deste ano! Tivemos ainda cinco em Cinema e quatro em Televisão como Azarões (ou seja, eram as nossas segundas opções). Os votantes da Hollywood Foreign Press Association podem ter uma lógica bem própria, mas chegamos bem perto dos resultados deles na maioria das nossas previsões. Confira, a seguir, a lista completa de premiados do Globo de Ouro 2019:
CINEMA
Filme Drama: Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer
Filme Comédia ou Musical: Green Book: O Guia, de Peter Farrelly
Animação: Homem-Aranha no Aranhaverso, de Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman
Filme Estrangeiro: Roma, de Alfonso Cuarón (México)
Ator em Drama: Rami Malek, por Bohemian Rhapsody
Atriz em Drama: Glenn Close, por A Esposa
Ator em Comédia ou Musical: Christian Bale, por Vice
Atriz em Comédia ou Musical: Olivia Colman, por A Favorita
Ator Coadjuvante: Mahershala Ali, por Green Book: O Guia
Atriz Coadjuvante: Regina King, por Se a Rua Beale Falasse
Direção: Alfonso Cuarón, por Roma
Roteiro: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly, por Green Book: O Guia
Canção Original: “Shallow”, de Lady Gaga, Mark Ronson, Anthony Rossomando, Andrew Wyatt, por Nasce Uma Estrela
Trilha Sonora: Justin Hurwitz, por O Primeiro Homem
Troféu Cecil B. DeMille: Jeff Bridges
TELEVISÃO
Série Drama: The Americans
Série Comédia ou Musical: O Método Kominsky
Minissérie ou Telefilme: American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace
Ator em Série Drama: Richard Madden, por Segurança em Jogo
Atriz em Série Drama: Sandra Oh, por Killing Eve
Ator em Série Comédia ou Musical: Michael Douglas, por O Método Kominsky
Atriz em Série Comédia ou Musical: Rachel Brosnahan, por Maravilhosa Sra. Maisel
Ator Coadjuvante em Televisão: Ben Whishaw, por A Very English Scandal
Atriz Coadjuvante em Televisão: Patricia Clarkson, por Sharp Objects
Ator em Telefilme ou Minissérie: Darren Criss, por American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace
Atriz em Telefilme ou Minissérie: Patricia Arquette, por Escape at Dannemora
Troféu Carol Burnett: Carol Burnett
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