O grande homenageado no terceiro dia de programação oficial do 24° Cine Ceará foi o cineasta João Batista de Andrade, um dos principais nomes do cinema brasileiro contemporâneo. Realizador de títulos como Doramundo (1978), premiado como Melhor Filme e Direção no Festival de Gramado, e O Tronco (1999), premiado como Melhor Direção no CinePE – Festival do Audiovisual, Andrade começou sua filmografia com o documentário em curta-metragem Liberdade de Imprensa (1967). Desde então, em uma carreira de quase cinquenta anos, já atuou como realizador, roteirista, editor, diretor de fotografia, produtor e até mesmo como ator. Em sintonia com a entrega do prêmio, no mesmo dia foi exibido o longa O Homem que Virou Suco (1981), vencedor do Festival de Moscou, em uma sessão especial. Ao receber o Troféu Eusélio Oliveira, o cineasta relembrou o fascínio que foi descobrir, ainda jovem, que para fazer cinema não era preciso ter o mesmo glamour de Hollywood: “quando percebi que poderia falar do nosso povo, da nossa terra, das nossas histórias, tive certeza de que o Cinema seria a atividade que iria desenvolver por toda a minha vida”, comentou em seu discurso de agradecimento.
A programação foi intensa no terceiro dia do Cine Ceará 2014. Além de começar com o Debate com os Realizadores dos filmes apresentados nas mostras competitivas na noite anterior, aconteceram as palestras A Propriedade Intelectual na Produção Audiovisual para Cinema e Televisão, com Petrus Barreto, e Biografias Não-Autorizadas, com Alessandra Gotti. À tarde teve espaço também o seminário Políticas Públicas para o Desenvolvimento do Audiovisual Moderno, com mediação de Marcelo Ikeda, e a oficina Criação e Elaboração de Roteiros Audiovisuais, com Orlando Senna. Outros destaques da programação foram as exibições do curta de animação Momentos (2011), de Pablo Polledri, e o longa Cama Adentro (2005), de Jorge Gaggero, ambos integrantes da Mostra Foco Argentina. Se o primeiro é uma sensível brincadeira com as três fases de vida de um homem – infância, maturidade e velhice – o segundo é um bem elaborado drama a respeito de duas mulheres – uma mulher desquitada e sua empregada – que, aos poucos, veem suas posições sociais e econômicas se inverterem. As protagonistas interpretadas por Norma Aleandro e Norma Argentina, estão excelentes!
As mostras competitivas seguiram à noite, com a exibição de dois curtas nacionais e de um longa do Equador. Os curtas-metragens apresentados foram O Relâmpago e a Febre (2014), do gaúcho Gilson Vargas, e De Castigo (2014), da paulista Helena Grama Ungaretti. Se o primeiro apresenta uma obra mais hermética e fatalista sobre um homem e um cachorro face à morte iminente, o segundo conquistou o escasso público presente com uma trama cômica e dona de bastante sensibilidade sobre um garoto que precisa conviver com sua tia-avó e o que acontece a partir das relações que se estabelecem entre eles, com o jovem e a idosa trocando experiências e ensinamentos.
Por fim, foi a vez de Não Roubarás… A Menos que Seja Necessário (2013), de Viviana Cordero. Representando o filme, estava presenta a protagonista, Vanessa Alvario, uma jovem de 19 anos que chamou atenção ao apresentar a obra de sua importância por abordar um tema muito recorrente em seu país. Talvez essa importância social seja a única justificativa para a presença de um título como esse numa mostra competitiva, pois suas deficiências são tão evidentes que chegaram a provocar risos de constrangimento entre os espectadores. Narrando a jornada de uma jovem que, após sua mãe ser presa precisa assumir os irmãos menores e, para isso, passa a roubar em nome de sua sobrevivência, o filme é de um amadorismo atroz, com elenco, direção e quesitos técnicos vergonhosos. Lamentável!
(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 24° Cine Ceará)