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Em tempos de guerra entre cultura e política, um coração independente parece estar batendo com ainda mais força em alguns veículos de comunicação – ao menos na Europa. Isso porque nessa quinta-feira, 27, a equipe editorial da tradicional revista mensal francesa Cahiers du Cinéma decidiu pedir demissão coletiva por não concordar com as instruções e o perfil de seus novos acionistas, que incluem produtores de cinema. Ou seja, na prática, muitos de seus profissionais teriam que “adequar” suas críticas e análises com base no pensamento de seus empregadores – algo que os jornalistas preferiram rechaçar. Os 15 redatores assalariados do popular guia, incluindo o editor-chefe da publicação, anunciaram em comunicado que optaram pela cláusula de cessão – um dispositivo que os jornalistas podem ativar em caso de mudança de propriedade. A revista foi comprada por Richard Schlagman, do grupo Le Monde, em 2008, e posta a venda no início de fevereiro.

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Em comunicado divulgado na íntegra no site Acrimed, os críticos se posicionaram contra a proposta. “Fomos avisados de que a publicação se tornaria mais ‘amigável’ e ‘elegante’. No entanto, a Cahiers jamais representou nenhum dos dois, sempre se comprometeu com análises críticas, e tomou posições claras“, diz o texto – lembrando teses de François Truffaut, que denunciou as tendências burguesas do cinema francófono. A nota ainda acrescenta que “transformar a Cahiers numa vitrine chamativa, uma plataforma para promover filmes franceses autorais, seria distorcê-la.” Do outro lado da mesa, em entrevista ao jornal Le Monde, o novo gerente da empresa, Eric Lenoir, negou que os novos donos da Cahier queiram intervir no conteúdo da publicação. “A equipe editorial deve escrever o que quiser sobre cinema. Está fora de questão orientar essas escolhas”, garantiu ele.

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A Cahiers du Cinema foi publicada pela primeira vez, na França, em março de 1951, por Jacques Doniol-Valcroze, André Bazin e Lo Duca. Ela uniu a revista Revue du Cinéma com a participação dos membros dos cineclubes parisienses: Ciné-Club du Quartier Latin e Objectif 49. Nesta formatação, foram somados à equipe de edição (que era inicialmente composta por Éric Rohmer e Maurice Scherer) outros colaboradores: Jacques Rivette, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e François Truffaut – profissionais que desenvolveram papel fundamental no nascimento da Nouvelle Vague na década de 1950 – um dos mais importantes movimentos da sétima arte mundial. E o que você, leitor do Papo de Cinema, pensa sobre a polêmica? Os jornalistas devem se adaptar às novas linhas editoriais ou seria melhor que a mítica revista deixasse de existir com sua história de rebeldia intacta? Deixe sua opinião nos comentários! 

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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