Kelly Reichardt possui um currículo invejável dentro do cinema de arte: ela venceu o Festival de Roterdã com Old Joy (2006), competiu no Festival de Cannes com Wendy e Lucy (2008), recebeu o prêmio SIGNIS no Festival de Veneza por Meek’s Cutoff (2010), venceu o Festival de Londres com Certas Mulheres (2016) e disputou o Urso de Ouro no Festival de Berlim com o belo First Cow (2019).
Mesmo assim, os caminhos para a produção não têm sido fáceis para a cineasta, que gosta de histórias realistas sobre mulheres fortes, além de temas como a solidão. Em entrevista ao GQ, ela explicou a lacuna de doze anos entre seu primeiro e seu segundo filme pela dificuldade de conseguir financiamento. De acordo com Reichardt, o cenário independente “não era nada generoso com as mulheres, de nenhuma maneira”.
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Ela explica que, depois de tentar financiar o projeto de Old Joy por mais de uma década, conseguiu juntar dinheiro suficiente ao dirigir uma temporada de America’s Next Top Model, um reality show de competição entre estilistas. A diretora se diz muito grata pelos colegas que lhe permitiram conquistar esta oportunidade, mas aponta para o fato de que as dificuldades persistem, ainda em 2020:
“Você pode romantizar [o fato de trabalhar com projetos de baixo orçamento], mas na verdade isso apenas significa que não estou sendo paga, e já passei dos 50 anos de idade”, ela afirmou ao New York Times. Desde 1994, a cineasta da Flórida dirigiu oito longas-metragens, e ainda não anunciou um próximo projeto após First Cow. Ela é conhecida pela parceria com a atriz Michelle Williams, que estrelou três de seus filmes.
Ela se torna o reflexo de um circuito de festivais onde os homens ainda dominam pelo menos 80% das mostras competitivas. Todos os grandes festivais de cinema – Cannes, Berlim, Veneza, Roterdã – são presididos por homens. Reichardt, por exemplo, nunca teve um filme lançado comercialmente no Brasil.