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Um dos diretores mais promissores do cinema independente norte-americano dos anos 1990, Kevin Smith tem alguns filmes realmente memoráveis, mas outros nem tanto. Muitos lamentam o fato dele não ter “decolado” como seu contemporâneo Quentin Tarantino. Mas, verdade seja dita, principalmente com O Balconista (1994) ele marcou presença numa década para lá de prolífica e rica do cinema estadunidense. O filme fez sucesso, chamou atenção para seu nome, mas nem tudo são flores nos bastidores de Hollywood. Numa recente entrevista à Variety, o cineasta disse que penou para receber o que lhe era devido pelo longa, especialmente do então produtor Harvey Weinstein, recentemente condenado por estupro (ler sobre isso na notícia relacionada abaixo). Diretor da poderosa Miramax na época, Weinstein pagou US$ 227 mil pelo filme, com a condição de desembolsar mais caso ele fosse lucrativo.

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Pois é exatamente a soma em torno desses royalties que Smith sofreu para receber. Segundo ele, Weinstein levou cerca de sete anos para quitar e mesmo assim incorreu em práticas no mínimo suspeitas, como colocar na conta do filme o aluguel de um iate para a promoção de Pulp Fiction (1994), também distribuído pela Miramax: “Ele (Weinstein) era conhecido por não pagar as pessoas. Enfrentei isso. E ainda estou sem dinheiro. Mas você tem de entender, nunca me importei com o dinheiro. Durante toda minha carreira, meus representantes disseram coisas como: ‘Você deveria estar ganhando bem mais’. O dinheiro nunca foi um motivador para mim (…) Mas, sobre O Balconista, levou sete anos para vermos algum lucro. Por sete anos, eles diziam: ‘Não, o filme ainda não está lucrando’. E nós ficamos, tipo ‘Como?’.

Smith afirmou ainda que mesmo aconselhado por seu advogado a auditar as contas relativas ao filme, se recusou por achar complicado fazer isso com gente do meio. Mas, adiante, depois de O Balconista 2 (2006), a auditoria aconteceu e “aí sim, ganhamos muito dinheiro”. Perguntado sobre o porque ter continuado a trabalhar com Harvey Weinstein depois disso, Smith disse que apenas o fez porque começou a receber antecipadamente.

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Cena de “O Balconista”
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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