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Sob a batuta de um premiado cineasta, um dos grandes ícones da cultura pop argentina ganhará série animada no streaming. Assinada pela Netflix, Mafalda – baseada na obra máxima do pensador e cartunista Quino – foi anunciada por Juan José Campanella, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por O Segredo dos Seus Olhos (2009). Assumindo o cargo de showrunner da aposta, Campanella, aliás, redigiu uma carta – enviada à imprensa – comentando o “desafio” de desenvolver o programa. A seguir, leia o texto e, em seguida, confira a primeira arte da série revelada e saiba mais sobre a personagem criada nos anos 1960.

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Eu tinha sete ou oito anos quando foi publicado o primeiro catálogo de tirinhas de Mafalda em forma de livrinho. Meus pais liam as tiras e me diziam que eu não ia entender. Que ofensa. Que desafio. Corri para comprá-lo e ainda me lembro de subir a ladeira de Melo enquanto lia, dando gargalhadas e admitindo que, de fato, haviam tiras que eu não entendia. Mafalda e seus amigos não só me faziam rir muito, mas de vez em quando me mandavam ao dicionário. E cada palavra nova que eu aprendia vinha com o prêmio de uma nova gargalhada.

Logo eu já era mais um da turma da Mafalda. Posso citar muitas piadas de memória, mas como hoje enfrento esse enorme desafio, não vou começar com os spoilers.

Corte para décadas depois, em plena produção de Um Time Show de Bola (2013). O mestre Quino veio visitar nosso escritório de produção. Havia quase 200 artistas de diferentes gerações e para todos nós era como se Deus tivesse entrado. Lembro que foi nesse dia que Quino tentou, pela primeira vez, desenhar com um lápis digital. Um gigante como ele, que inspirou gerações de desenhistas com seu traço, e muitos outros humoristas com seu senso de ironia e comentários perspicazes, estava dando forma a um traço, mas como nunca antes, sem tinta nem papel. Seu entusiasmo era o de uma criança com um brinquedo novo, fazendo dezenas de perguntas. O entusiasmo e a curiosidade de quem nunca acreditou saber tudo.

Desde essa visita, começaram a surgir perguntas. Como podemos reconectar as novas gerações que não cresceram com Mafalda a essa grande obra? Como podemos levar seu engenho, sua mordacidade, às crianças que hoje crescem em plataformas digitais? Como podemos, enfim, traduzir uma das maiores obras da história do humor gráfico para a linguagem audiovisual? 

Hoje, doze anos depois dessa visita inesquecível, enfrentamos esse desafio. Nada mais nada menos que transformar Mafalda em um clássico da animação. É nossa obrigação preservar o humor, o timing, a ironia e as observações de Quino. Sabemos que não podemos elevar Mafalda, porque mais alta ela não pode estar. Mas sonhamos que aqueles que são devotos dela desde o início possam compartilhá-la com nossos filhos, e embora haja coisas reservadas apenas para adultos, todos possamos soltar uma gargalhada em família, e por que não, recorrer ao dicionário de vez em quando.

Sem dúvida, de longe, o maior desafio da minha vida.”

Juan José Campanella, 2024

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A ASCENSÃO DE UM SÍMBOLO

Mafalda foi criada em 1963, por Quino (1932-2020), para uma propaganda da empresa de eletrodomésticos Mansfield que deveria ser publicada no diário Clarín. A inspiração do traço veio principalmente de Charles M. Schulz, criador do Snoopy. No entanto, Clarín rompeu o contrato e a campanha foi cancelada. Mafalda somente se tornou um cartoon em setembro de 1964. Nas tiras dos jornais, a menina de seis anos de idade ganhou o mundo com sua visão aguda da vida e questionamento do universo à sua volta, sempre preocupada com a humanidade e a paz mundial. É considerada uma das grandes vozes contrárias à última ditadura argentina (1976-1983).

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Mafalda, vale lembrar, já ganhou o audiovisual anteriormente. No filme argentino Mafalda (1982), Susana Klein emprestou sua voz à icônica garotinha. E aí? Ansioso? Então fique ligado no Papo para, em breve, mais informações sobre o seriado.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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