É comum celebrarmos o cinema de Petrus Cariry por sua beleza visual, fruto de um rigor estético que realmente confere a seus filmes uma aura transcendente. Nessas histórias de Petrus é como se a realidade estivesse sempre reivindicando uma posição mitológica, assim atingindo “algo maior que a vida”. Em meio aos temas comuns no cinema desse grande cineasta cearense, como a morte, a obsolescência e tudo que vem a reboque da hereditariedade, acabamos falando pouco das trilhas sonoras. E como são bonitas as canções nos filmes de Petrus, ainda que o maior atributo de suas músicas e acompanhamentos seja a capacidade de conferir uma camada especial à atmosfera.
Em Mais Pesado é o Céu, o realizador contou novamente com a parceria de João Victor Barroso, compositor com quem trabalhou em vários filmes, entre eles O Barco (2018), A Jangada de Welles (2019) e A Praia do Fim do Mundo (2021). Além das canções especialmente criadas para o filme, há a inserção de duas músicas adicionais conhecidíssimas: Timidez e Brincar de Amar, ambas da banda Cavalo de Pau, uma das pioneiras do forró eletrônico. Uma pitada de sonoridade popular que certamente funciona como uma das marcas do filme.
“A trilha é um elemento muito importante do filme, pois ajuda a contar a narrativa. Foi um trabalho muito feliz do João Victor Barroso, um parceiro que colaborou comigo em quatro projetos. É um parceiro de longa data e um amigo de muito tempo. Nos conhecemos desde a infância. Buscamos timbres eletroacústicos e eletrônicos, principalmente ali no fim da década de 1980. Fiquei muito feliz com o resultado. E a escolha das músicas da Cavalo de Pau se devem muito à personagem da Teresa, pois são musicas que ela escutava enquanto adolescente moradora de Jaguaribara. As músicas remetem à fase em que ela tinha tudo pela frente. Interessante que as músicas tocam no posto de gasolina. Elas são antigas, de outra época, então ajuda a reforçar essa fantasmagoria do filme”, diz Petrus Cariry.
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Autor da trilha sonora de Mais Pesado é o Céu, João Victor Barroso venceu o prêmio de Melhor Fotografia do Cine Ceará 2018 por seu trabalho em O Barco (2018), e também assinou a trilha de A Filha do Palhaço (2023), outro filme atualmente em cartaz que confirma o excelente momento do cinema cearense. Conversamos brevemente com ele para saber um pouco sobre como foi o processo de musicar essa jornada de personagens erráticos pelo interior em busca de um futuro.
“Criar a música para os filmes do Petrus Cariry costuma ser um momento de muita pesquisa e experimentação. Petrus é músico nas horas vagas e audiófilo. Por conta dessa bagagem seus projetos muitas vezes me são apresentados com o direcionamento musical já bem definidos tornando a conversa inicial muito fácil. E o processo no Mais Pesado é o Céu não foi diferente. O seu conceito musical está dentro de um estilo que vem sendo consolidado desde a nossa primeira parceira. São trilhas que vão desde música eletrônica anos 80, indie rock, música ambiente a peças orquestrais neoclassicas e contemporâneas que exploram texturas, atonalismo e ruído. Mais Pesado é o Céu é o oitavo projeto do Petrus em que ajudo com a música de alguma forma. E é sempre uma grande alegria estar envolvido nesses filmes, pois durante o processo sou apresentado a novos sons sempre interessantes e que como referência provocam na produção musical uma busca minuciosa e paciente me trazendo muita aprendizagem e crescimento como compositor”.