(A publicação foi atualizada com a resposta da assessoria de comunicação da Ancine, no fim do texto).
O longa-metragem Marighella (2019), dirigido por Wagner Moura, acaba de sofrer outro revés em sua tentativa de estrear comercialmente nos cinemas brasileiros. Desde que foi exibida pela primeira vez, em fevereiro de 2019 no Festival de Berlim, a biografia do guerrilheiro Carlos Marighella, interpretado por Seu Jorge, sofre inúmeras dificuldades de lançamento.
A distribuidora Paris Filmes anunciou diversas vezes uma data de estreia, sempre adiada por imbróglios envolvendo a Ancine, e depois, pelo fechamento das salas de cinema em virtude da pandemia de Covid-19. O diretor sempre alegou censura por parte da agência reguladora, aparelhada com servidores conservadores desde o início do governo Bolsonaro. O presidente nunca escondeu a ojeriza pelo personagem histórico que combateu a ditadura militar.
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O filme acompanha a trajetória política do membro do Partido Comunista, desde suas primeiras ações até os planos mais agressivos que provocaram discordâncias dentro do partido. Enquanto isso, foi perseguido ativamente pela polícia sob mando dos militares, até sua execução. O grande elenco inclui Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Herson Capri, Humberto Carrão e Luiz Carlos Vasconcelos.
A Ancine se manifestou nos seguintes termos, de acordo com apuração do site Farofafá: “Procedemos ao cancelamento do projeto acima referenciado e encerramento do respectivo processo devido à desistência da proponente em prosseguir com o projeto na Chamada Pública”. Ora, segundo o jornalista Jotabê Medeiros, a empresa O2 Cinema jamais desistiu da chamada pública.
Anteriormente, a Ancine justificava o entrave ao lançamento de Marighella em virtude de problemas burocráticos com outro projeto da empresa: O Sentido da Vida (2013), dirigido por Miguel Gonçalves Mendes. No entanto, a discordância entre as partes foi resolvida em abril de 2021, de modo que o arquivamento do filme de Wagner Moura não teria novas justificativas por parte da agência.
O caso sustenta o argumento de censura no interior da instituição criada para manter relativa independência do governo, e que não poderia, sob qualquer aspecto legal, exercer uma seletividade ideológica entre as obras propostas.
Atualização: Após a publicação deste artigo, a assessoria de comunicação da Ancine entrou em contato com o Papo de Cinema, contestando as informações da matéria. Segue, na íntegra, a resposta da agência:
O projeto “Marighella”, da produtora O2 Filmes, está em fase de contratação na chamada de Fluxo Continuo de Cinema para produção da obra.
Ao celebrar contrato de investimento em projeto de produção de obra cinematográfica de longa-metragem, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) tem a opção, mas não a obrigação, de investir recursos em despesas de comercialização da obra.
A O2 FILMES encaminhou, em 08/08/2019, carta direcionada à Superintendência de Desenvolvimento Econômico (SDE) da ANCINE requerendo confirmação quanto à possibilidade de inscrição na chamada de investimento em comercialização de forma prévia à celebração do Contrato de Investimento de produção.
A Diretoria Colegiada da ANCINE não acatou o pedido porque entende que enquanto não assinar o contrato de produção não há que se falar em opção de investimento em comercialização, já que a obrigação de apresentar a proposta ainda não existe.
A área técnica da ANCINE diligenciou a distribuidora do projeto, a SM Distribuidora de Filmes, em 25/04/2021 sobre a nova data de lançamento e obteve como resposta, em 26/04/21, que como o lançamento comercial não foi realizado em 20/11/2019, a oferta estava cancelada. Ou seja, com o adiamento do lançamento, houve a desistência da inscrição por parte da SM Distribuidora de Filmes, e consequentemente, o arquivamento do processo em 02/07/2021.
Em 23/07/2021 a SM Distribuidora de Filmes se inscreveu novamente na chamada com nova data de previsão de lançamento para 04/11/2021, um novo processo foi aberto na área técnica da ANCINE e já está em análise.