Depois de chegar mais tarde do que a DC na missão de realizar um filme de super-herói estrelado por mulheres (Mulher-Maravilha, 2017, veio antes do ainda inédito Viúva Negra, 2020, e mesmo antes de Homem-Formiga e a Vespa, 2018), a Marvel promete estar levando a sério a representatividade dentro de seus filmes.
Já havia sido anunciado pelo produtor Kevin Feige que Valkyrie (Tessa Thompson) teria sua bissexualidade explicitada em Thor: Love and Thunder (2021), que trará Natalie Portman como protagonista, enquanto Os Eternos (2020) trará Richard Madden no papel de um imortal com poderes de teletransporte, que é casado com um homem e tem filhos.
Este mesmo filme terá um super-herói surdo, ao passo que Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings (2021) terá o primeiro super-herói asiático em posição de protagonismo na Marvel. Agora, a produtora dará um passo adiante com a inclusão do(a) primeiro(a) super-herói (ou heroína) transexual da saga, “em uma produção sendo filmada agora”, sublinhou Feige durante um evento na New York Film Academy.
LEIA MAIS
Apenas 20% dos filmes em Hollywood são estrelados por negros, aponta estudo
CCXP 2019 :: “A ação nunca foi um gênero masculino” defendem Gal Gadot e diretora de Mulher-Maravilha 1984
Transgêneros pedem que Hollywood retrate melhor as suas histórias
Embora tenha mantido a identidade do(a) personagem em segredo, estipula-se que se trate de Sera, anjo pertencente a um grupo tradicionalmente masculino, que faz sua transição para o gênero feminino. O papel ainda não possui um ator ou atriz escalada, embora se espere que os produtores recorram a uma pessoa transexual. De qualquer modo, é improvável que este personagem tenha uma posição em destaque dentro da trama, visto que os projetos enunciados acima giram em torno de personagens cisgênero e de ampla maioria heterossexual.
Por mais que a comunidade LGBTQI+ comemore passos simbólicos como estes, ainda existe desconfiança quanto à qualidade desta representação: em diversos blockbusters, é comum algum personagem ser apontado como gay ou lésbica, sem que sua homoafetividade se desenvolva na trama, a exemplo de LeFou em A Bela e a Fera (2017) ou Dumbledore na saga Animais Fantásticos. Não basta apenas indicar, por diálogos, que um personagem se relaciona com pessoas do mesmo sexo se a expressão de seu amor e seu desejo ainda é ocultada das imagens. Se tantos personagens heterossexuais podem beijar e abraçar seus amados, porque os gays, lésbicas, bissexuais e trans não teriam o mesmo direito?
É claro que produções do porte da Marvel visam agradar tanto ao público progressista quanto ao conservador, de modo que o aceno tolerante, especialmente no que diz respeito a personagens femininas e personagens negros, ainda é acanhado perto da esmagadora maioria de heróis brancos, heterossexuais e cisgênero dentro das mesmas histórias. Resta esperar os próximos dois anos para ver estas promessas de diversidade se concretizarem na tela do cinema.