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O termo “cinema experimental” costuma despertar calafrios em cinéfilos acostumados à estrutura dos filmes clássico-narrativos. No entanto, o conceito comporta obras muito diferentes, em vários graus de acessibilidade, e capazes de trazer uma poesia única. Por um destes acasos da programação, o Papo de Cinema se organizou para assistir no mesmo dia a duas produções da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes descritas como “experimentais” pelos próprios criadores: Oráculo (2020), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn, e Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó) (2020), de Clara Chroma, Orlok Sombra e Cleyton Xavier.

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Oráculo

 

Trata-se de dois filmes em registros quase opostos, mas igualmente experimentais – e ambos muito bons. Oráculo aprofunda um tipo de relação entre os corpos e os espaços que os criadores já haviam mostrado no belo Muito Romântico (2016). Desta vez, eles apresentam sequências de corpos solitários, manifestando-se em espaços abertos através da música, da dança e da narração oral.

Aos poucos, nota-se pequenas aproximações entre estas cenas de personagens sem nome, e que jamais se cruzam. Eles são observados de uma mesma distância, representando um elogio à reprodução: cada gesto ou atitude é reencenado de alguma forma ao longo da narrativa. As cenas espelhadas de abertura e conclusão carregam uma beleza ímpar. A Mostra Aurora ainda está no início, mas já apresenta um forte título à premiação. Leia a nossa crítica.

 

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Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó)

 

Contra a poesia elegante de Oráculo, mas também contra qualquer forma de cinema convencional, de sociedade patriarcal e de convenções e normas sociais, Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó) aposta no cinema anárquico. Os diretores narram a história de Rodson, uma criança que se rebela contra os pais conservadores e parte numa jornada de autodescoberta, repleta de cocaína, sexo, inferninhos, influenciadores digitais e ciborgues mergulhados no lixo.

A trama absurda constitui mero ponto de partida para os criadores brincarem com múltiplas intervenções na imagem: letreiros, filtros, distorções, sobreposições de imagem e de som, chroma key etc. O resultado constitui no encontro entre o cinema amador, carregado de vigor juvenil e do estilo dos memes, e a linguagem experimental. Uma obra onde o tosco é abraçado com orgulho, e elevado à enésima potência. Leia a nossa crítica.

 

A Mostra Aurora segue em 25 de janeiro com a exibição de Rosa Tirana, ficção baiana dirigida por Rogério Sagui. A estreia ocorre às 20h no site da Mostra de Tiradentes, e depois deste horário, o filme permanece em exibição por 48 horas.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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