Na noite de 22 de janeiro, a 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes iniciou sua edição online. Por um lado, é triste ver o cinema brasileiro longe das salas de cinema (o ano passado trouxe a exibição inaugural de Sertânia, por exemplo), mas por outro lado, existe um interesse particular em levar ao país inteiro obras ousadas e normalmente restritas a poucos espectadores. A possibilidade de democratizar experimentações de forma e discurso torna-se uma força da edição 2021.
A noite de abertura se iniciou com uma “performance visual”, segundo os organizadores, que talvez se assemelhe a um média-metragem de 33 minutos, de estrutura relativamente convencional para os padrões de Tiradentes. Mesmo assim, este segmento inicial permitiu aos criadores reforçar os objetivos e princípios da Mostra, que serão mantidos apesar do distanciamento social.
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Com trabalho bastante simples de som e fotografia, a obra ressaltou o espírito de resiliência por trás dos eventos online, resgatando imagens dos trabalhadores e artistas presentes em edições anteriores. Assim, valorizou o aspecto de criação manual e humana do cinema, comparando-o com o artesanato. Apesar da impessoalidade das telas, Tiradentes sublinhou as múltiplas mãos e vozes por trás de cada sessão em streaming.
A propósito de telas, os melhores momentos da cerimônia surgiram do estranhamento causado pelo suporte digital. Durante a homenagem a Paula Gaitán, a própria cineasta, ao vivo numa tela pequena, observava a si mesma, em tela maior, concedendo uma entrevista pré-gravada. Nada soava particularmente natural nesta configuração, e melhor que seja assim: quanto mais distanciamento a linguagem puder oferecer a respeito do mundo isolado e remoto, melhor será nossa capacidade crítica diante das obras exibidas.
Gaitán teve seu novo trabalho revelado durante a noite de abertura: Ostinato (2021) traz uma conversa com Arrigo Barnabé sobre seu processo de criação. Fugindo à estrutura convencional, a diretora evita traçar uma linha do tempo ou mergulhar na vida pessoal do músico. Ela se interessa sobretudo ao artista enquanto pensador, alimentando discussões muito interessantes com o amigo sobre cultura, política e sociedade. Confira a nossa crítica.
A partir de 23 de janeiro, a Mostra de Tiradentes adota outro ritmo. As exibições da Mostra Aurora têm data específica, permanecendo online por 48 horas após a estreia. Enquanto isso, os longas e curtas-metragens das demais Mostras estão disponíveis até o fim do evento, dia 30 de janeiro.
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