Após um mês disponível online, em mais de 200 territórios e 60 plataformas – incluindo uma programação gratuita no Brasil – a 10ª edição do MyFrenchFilmFestival chegou ao fim. O festival comemorou em 2020 o seu segundo melhor resultado de todos os tempos: foram mais de doze milhões de visualizações para as dezenas de curtas e longas-metragens franceses exibidos.
Os números são expressivos: eles significam que produções que dificilmente ganhariam as salas de cinema, como os ótimos Perdrix (2019) e Os Meteoritos (2018), foram vistas por milhões de pessoas em diversos países, num esquema de distribuição e exibição incompatível com as regras tradicionais do circuito comercial. Para diversos espectadores, esta pode ter sido a primeira oportunidade de se confrontar ao cinema francês para além das grandes comédias populares ou dos filmes de autores consagrados em Cannes ou Veneza, por exemplo.
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O Papo de Cinema teve a oportunidade de assistir a todos os longas-metragens da edição 2020 (leia as nossas críticas), e constatou uma qualidade impressionante dos filmes selecionados, além de uma variedade preciosa. O evento combinou produções de guerra (Os Confins do Mundo, 2018) com documentários intimistas (A Grande Missa, 2018), projetos políticos fervorosos (Meu Bairro Vai Rachar, 1997) com suspenses psicológicos (Instinto Materno, 2018). Muitos desses diretores estão em seu primeiro ou segundo longa-metragem, o que permite ao espectador descobrir nomes que se confirmarão na cinematografia francesa nos próximos anos.
Para além dos gêneros – dramas, comédias, suspense – percebe-se afinidades temáticas que atravessam diferentes estilos: a preocupação com uma juventude abandonada e sem regras (As Feras, Jessica Forever, O Professor Substituto, Perdrix) e a França confrontada à figura do outro, seja ele o estrangeiro, o imigrante ou o refugiado (Os Confins do Mundo, A Grande Missa, Resgatados, Meu Bairro Vai Rachar). Juntos, representam um olhar crítico à imagem da França acolhedora, cada vez mais testada em suas novas conjunturas políticas.
Pode-se destacar igualmente a quantidade expressiva de filmes estrelados por mulheres (O Vento Muda, As Feras, Instinto Materno) e dirigidos por elas (Jessica Forever, A Grande Missa, O Vento Muda). Aos poucos, O MyFrenchFilmFestival ocupa um espaço indispensável no calendário cinéfilo, não apenas pela exibição acessível em casa e em plataformas de streaming, mas também por valorizar obras ocupando o espaço entre o filme autoral hermético e a comédia popularesca, capazes de agradar crítica e público.