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Na China, Clube da Luta ganha novo final para agradar autoridades

Publicado por
Bruno Carmelo

Imagine assistir a um filme bastante conhecido mundialmente, como Clube da Luta (1999), e chegando à cena final, descobrir um desfecho totalmente diferente daquele que viu anos atrás. Isso acaba de acontecer com os espectadores chineses que assinam o serviço local de streaming Tencent Video. Ao invés da conclusão criada por David Fincher, onde o personagem de Edward Norton mata seu alter-ego Tyler Durden (Brad Pitt) enquanto observa os prédios explodirem, a versão chinesa substitui esta cena pelo seguinte letreiro:
“Através da pista fornecida por Tyler, a polícia rapidamente descobriu todo o plano e prendeu todos os criminosos, impedindo com sucesso que a bomba explodisse. Depois do julgamento, Tyler foi mandado para um asilo de loucos (sic), recebendo tratamento psicológico. Ele foi liberado do hospital em 2012”. Em outras palavras, um final feliz, onde os “loucos” são redimidos, e o Estado vence.
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O site The Guardian, que divulgou a notícia, precisa que não se sabe de onde partiu a ordem para censurar a conclusão original. A decisão poderia ter vindo de algum órgão de cultura do governo, mas também da plataforma de streaming, dos distribuidores locais, e mesmo dos produtores norte-americanos — estes últimos, visando driblar a rígida censura imposta pelas autoridades chinesas.
Vale lembrar que a alteração de trechos de filmes não é incomum na China. O regime Xi Jinping tem buscado eliminar o acesso a imagens violentas ou consideradas moralmente incorretas. Em outras palavras, esconde-se o tema delicado, ao invés de debatê-lo e compreendê-lo. Recentemente, as cenas de homossexualidade em Bohemian Rhapsody (2018) foram cortadas no país, enquanto a cerimônia do Oscar deixou de ser transmitida devido às críticas da diretora Chloe Zhao (Nomadland, 2020) ao governo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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