Uma ameaça global. De um lado, especialistas alertando contra um cataclisma iminente. O alarde é justificado porque a ameaça é realmente terrível. Do outro, pessoas começam a questionar a existência desse mal e a carregar a situação para um espectro extremista da direita conservadora. Parece que estamos falando da crise ocasionada pela pandemia da Covid-19, mas na verdade essa pequena premissa é de Não Olhe para Cima (2021), nova sátira política dirigida por Adam McKay que estreou recentemente na Netflix causando um verdadeiro burburinho nas redes sociais. E muitos desses comentários traçam paralelos entre os personagens e alguns integrantes do Brasil desgovernado que temos atualmente. A presidenta negacionista vivida por Meryl Streep seria uma alusão a Donald Trump e a seu “filhote” mais obediente, Jair Bolsonaro? Olha que parece. O político “filho da mamãe” de Jonah Hill seria equivalente, em seus arroubos de sandice, ao vereador Carlos Bolsonaro? Olha que também parece, mesmo.
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Essas e outras comparações têm pipocado na internet desde que o filme chegou ao streaming. Há quem diga que o cientista de Leonardo DiCaprio seria uma versão ficcional do biólogo Átila Iamarino, cientista que ganhou notoriedade com suas tentativas de alertar a população sobre a gravidade da Covid-19. O mesmo pode ser dito de uma associação bastante comum entre a personagem de Jennifer Lawrence e a bióloga e divulgadora científica Natalia Pasternak – ela que chegou a escrever em suas redes sociais sobre o filme “Não Olhe para Cima: o filme é a triste constatação de que o que vai nos matar não será um vírus, nem um cometa. Vamos morrer mesmo é de idiotice humana”. O duro para qualquer criador de ficção é conseguir romper os limites dessas personalidades nocivamente caricaturais que dominaram o nosso cotidiano político. Ou você acha que o empresário ganancioso (e oportunista), as celebridades irresponsáveis da televisão e o ex-militar viciado em ser herói são exageros?