Depois de nomes como Deborah Secco e João Batista de Andrade, foi a vez do ator Nelson Xavier ser agraciado com o Troféu Eusélio Oliveira aqui no 24° Cine Ceará. O intérprete, que possui mais de noventa trabalhos no cinema e na televisão, não deixou de exibir seu costumeiro mau-humor por Fortaleza, recusando-se a tirar fotos com fãs e admiradores. No palco, no entanto, parecia verdadeiramente emocionado, agradecendo a lembrança, o prêmio e o vídeo apresentado com algumas das cenas marcantes de sua trajetória. “Veja, eu também já fui jovem!”, comentou entre risos e aplausos da plateia. Xavier há pouco esteve em cartaz no internacional Trash: A Esperança Vem do Lixo (2014), do inglês Stephen Daldry, e ganhou o kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado deste ano por seu arrebatador desempenho em A Despedida (2014), em que aparece ao lado de Juliana Paes. Marcado também por filmes de temática espírita – apareceu em três: Chico Xavier (2010), As Mães de Chico Xavier (2011) e O Filme dos Espíritos (2011) – começou sua carreira em 1959, e pouco tempo depois, com Os Fuzis (1964), iniciou uma premiada parceria com Ruy Guerra, com quem co-dirigiu A Queda (1978), longa que ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Berlim. Ao longo de sua carreira foi premiado também no Festival de Brasília e indicado ao Grande Prêmio Brasil de Cinema.
O sexto dia de atividades guardou algumas surpresas para os espectadores. Na Mostra Foco Argentina LGBT, ao invés de exibirem a programação esperada, houve uma troca devido à problemas técnicos e adiantou-se a projeção de O Terceiro (2014), título que participa nesta mesma semana também do 22° Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual, em São Paulo. O longa, de Rodrigo Guerrero, mostra o que acontece a um casal gay quando decidem convidar um rapaz mais jovem para transar com eles durante uma noite repleta de conversas desajeitadas e momentos quentes na cama. Curto, com apenas 70 minutos, funciona para mexer com a libido da audiência, mas falha em provocar um debate mais profundo a respeito da questão.
Outros problemas aconteceram também à noite, no Theatro José de Alencar, durante a projeção das mostras competitivas. Falhas técnicas de som e imagem interromperam as projeções em mais de um momento. Felizmente, foram contornadas à tempo, o que, no entanto, não impediu um atraso de quase uma hora na programação. Afinal, este era o dia com o maior número de títulos a serem exibidos: três curtas e dois longas! Mas o público foi persistente, e boa parte da audiência permaneceu atento até o final da sessão, que terminou após à uma hora da manhã de sexta-feira.
Os curtas nacionais apresentados foram: Menino da Gamboa (2014), dos baianos Pedro Perazzo e Rodrigo Luna; a animação Edifício Tatuapé Mahal (2014), das paulistas Carolina Markowicz e Fernanda Salloum; e Joaquim Bralhador (2014), do cearense Márcio Câmara. O primeiro, dedicado ao crítico de cinema baiano João Sampaio, falecido no início desse ano, é o melhor dos três, ao focar sua trama em um garoto de uma vila à beira do rio que traça um plano para ser independente, ao mesmo tempo em que não consegue evitar seus impulsos infantis. A bela fotografia e a atuação competente do protagonista salta aos olhos como pontos positivos da produção. Já o segundo, feito em stop motion sobre um boneco de maquete que descobre que está sendo traído pela mulher e faz uma operação de mudança de sexo, tem circulado com sucesso por festivais no Brasil e no exterior, mas é muito mais uma brincadeira divertida do que algo que mereça maiores atenções. E o último, o mais prejudicado dos três pelas falhas da projeção, resgata uma lenda local sobre um rapaz que se comporta meio homem, meio cavalo, até que uma das metades lhe falará mais alto, selando seu destino.
A noite terminou com os longas Os Fenômenos (2014), do espanhol Alfonso Zarauza, na mostra competitiva ibero-americana, e O Sal da Terra (2014), de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, exibido hors concours. O primeiro, estrelado por Lola Dueñas e Luis Tosar, reflete os problemas econômicos atuais europeus tendo como protagonista uma mulher que precisa trabalhar como pedreira para se sustentar em uma sociedade em crise. Já o segundo é um delicado documentário sobre a vida e a obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, repleto de belas imagens e de uma narrativa leve e fácil de acompanhar. Os dois elevaram o nível do festival, compondo um cenário pertinente e envolvente que certamente deverão dar muito ainda o que comentar.
(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 24° Cine Ceará)